quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

24 de fevereiro

Se estivesse vivo, meu pai completaria 71 anos hoje, 24 de fevereiro. Mas partiu fora do combinado ainda um moço, aos 65 anos, antes de operar de um câncer que começava a lhe tirar as forças. Era uma pessoa divertidíssima, contador de piadas e de histórias hilárias. Uma delas: quando jogador de futebol, marcou um gol contra cobrando pênalti. O petardo que disparou bateu no travessão; a bola atravessou todo o campo e entrou na meta defendida pelo goleiro de seu time. Pior é que ele jurava de pé junto que a história era verdadeira. Assim, sem literatura, a história pode parecer boba, mas sua narrativa era cheia de detalhes, de poesia.
Certeza que teria nos convidado para um grande almoço dominical em família, regado a cerveja e a vinho (que comprava para as noras, pois as adorava) e a música.
Só nos restou a saudade. Que Deus o tenha, pai.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Sai Muricy, entra Antônio Carlos


Em agosto do ano passado, postei uma nota aqui fazendo campanha pela volta de Jorginho como técnico principal da equipe do Palmeiras. Jorginho, então técnico das categorias inferiores do time, assumira o lugar do falastrão Wanderley Luxemburgo – que anda apagado, apagado!. O Palmeiras acabara de contratar Muricy Ramalho. Na época, pedia a volta do Jorginho porque, como escrevi na época, “depois que o Morumbi Ramalho (ops, Murucy) assumiu o comando da equipe, o time descambou. A última vitória do Palmeiras aconteceu no dia 1º de agosto, 1 a 0 no Sport Recife, na Ilha do Retiro. De lá pra cá, disputou doze pontos e conquistou apenas quatro. Foram três empates em 1 a 1 com Grêmio, Atlético e Botafogo, e a derrota para o Coritiba”.
Depois de um início desastroso, o Palmeiras até que se acertou. Liderou boa parte do Brasileirão, depois perdeu o norte e deu no que deu. A taça ficou na Gávea e o Palmeiras sequer garantiu vaga na Libertadores.
Não tenho nada contra o Muricy. Mas o homem não tem a cara do Palmeiras. Assim como não o vejo na direção do Corinthians. O Palmeiras errou ao contratá-lo. Grande parte da torcida simpatizara com Jorginho, que já conhecia a equipe, o clube.
Respeito profundamente o homem Luiz Gonzaga Belluzzo, mas a diretoria do Palmeiras fez nova lambança ao contratar o ex-zagueiro Antônio Carlos para o lugar do Muricy. O novo técnico atuou como jogador pelo Palmeiras entre 1993 e 1995 – foi bicampeão Paulista (93 e 94), bi Brasileiro (93 e 94) e do Torneio Rio-SP (93). Como técnico, contudo, Antônio Carlos tem pouquíssima experiência. Aliás, o grande feito na breve carreira de técnico foi a goleada imposta pelo São Caetano (time que dirigiu até dias destes) ao Palmeiras, por 4 a 1, em pleno Palestra Itália. Por que não uma nova tentativa com Jorginho? Será que Antônio Carlos será a salvação do Verdão? Muricy era o único culpado pela má fase da equipe ou serviu de bode expiatório?
Em tempo: depois de passar dos enta, resolvi voltar a estudar. Por isto meio que abandonei o blog. Mas com o tempo – até me adaptar à nova realidade – voltarei a ser mais constante.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Cão brabo corta pinto?




O cão é brabo, você sai correndo, cai no salão do nosso amigo aí, perde o bilau e ainda por cima ficar sem a tal bicicleta, que nesta loja você não encontrará.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Pena Branca


Uma nota triste. Na noite desta segunda-feira faleceu o cantor José Ramiro Sobrinho, de 70 anos, mais conhecido como Pena Branca, acometido de infarto. Ao lado do irmão, Xavantinho (Ranulfo Ramiro da Silva), formou uma das melhores duplas caipiras (ou sertaneja, como querem alguns) das últimas décadas. Xavantinho partiu fora do combinado em 1999. Pena Branca seguiu carreira solo e chegou a ganhar um Grammy Latino.
Pena Branca e Xavantinho chegaram em São Paulo em 1968 para tentar a carreira artística. Gravaram o primeiro compacto (disco de vinil que tinha apenas uma música gravada de cada lado), Saudade. Somente em 1980 lançaram o primeiro LP (Long Play, o bolachão), Velha Morada. Depois vieram Uma dupla brasileira, de 1982; Cio da Terra, de 1987, com a participação de Milton Nascimento; Canto Violeiro, de 1988; Cantadô do mundo afora, de 1990 – ganhador do Prêmio Sharp com a música Casa de Barro –; Renato Teixeira & Pena Branca e Xavantinho ao vivo em Tatuí, de 1992; Viola e Canção, de 1993; Ribeirão encheu, de 1995; Pingo d'água, de 1996, e Coração Matuto, de 1999. Na minha opinião, Viola e cancões é imperdível, assim como o disco que gravaram com Renato Teixeira.
Pena Branca lançou três discos depois da morte do irmão: Semente Caipira (2000), Pena Branca canta Xavantinho (2002) e Cantar Caipira (2008).
A música brasileira ficou órfã de um grande interprete da canção popular.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Odisséias


Conta o poema épico a Odisséia que o herói grego Odisseu (ou Ulisses, pela mitologia romana) levou dez anos para voltar para casa, em Ítaca, depois da queda de Tróia. O herói, que criou o famosos Cavalo de Tróia, enfrentou tempestades, ciclopes, as sereias.
Ontem, quarta-feira, senti-me um pouco Odisseu tentando voltar para casa. Primeiro, com as ruas centrais travadas, tentei embarcar no metrô – estação República. Os ciclopes não deixaram. Cai no canto das sereias e fui para a avenida São João pegar um ônibus. Uma hora se passou e nada do coletivo. Deve ter sido engolido por Poseidon nos mares em que se transformava São Paulo. Passada uma hora, cri que o metrô estava livre. Acho que de novo as sereias sussurraram em meus ouvidos. Já dava para entrar na estação, mas as plataformas estavam apinhadas. Os trens, nem se diga. Não dava para arriscar.
O jeito foi voltar para o trabalho e esperar Poseidon se acalmar e Odisseu atracar num cais de um mar menos revolto. Minha Odisséia não levou dez anos, mas três horas e meia para fazer o mesmo percurso que em dias, digamos, normais, não gasto mais do que 55, 60 minutos.
É certo que a natureza tem castigado São Paulo – há mais de 40 dias as chuvas não cessam. Mas não são só elas as culpadas pelas mazelas que a região metropolitana está enfrentando. Em entrevista ao Portal Terra, o geógrafo Aziz Ab'Saber, professor emérito da USP e um dos principais nomes da área em atividade no país, afirma:
“Agora, não adianta o governador dizer: 'foi a chuva que ocasionou isso'. Ele tem que saber que há um período que vem desde dezembro de 2009 e atravessou o mês inteiro de janeiro de 2010 e só vai terminar depois dos meados de março.” Ou seja, ninguém tomou nenhuma providência.
Na nossa cultura política, o grande administrador é aquele que “faz”; aquele que abre largas avenidas, constrói pontes, túneis, embeleza a cidade. Muitas vezes para dizer que fez obras. A maioria deixa de fazer as coisas mais simples, porém essenciais, como a limpeza de córregos, de bueiros, recolher o lixo etc.
Em Osasco, por exemplo, Francisco Rossi fora considerado “um bom prefeito”, porque remodelou as praças públicas e construiu um imenso viaduto metálico sobre uma rotatória. Obras que também são necessárias, não fosse à época a cidade, então com quase 600 mil habitantes, contar com apenas um hospital público – gerido pelo Estado – e o principal pronto-socorro sofrer com a falta de medicamentos, inclusive de esparadrapos. O prédio, antigo, tinha goteiras (goteiras é maneira de se falar, pois praticamente chovia no corredores do PS).
As cidades metropolitanas cresceram desordenadamente por décadas. Na verdade incharam. A irresponsabilidade sempre foi muito grande. As ocupações de terrenos, públicos ou privados, sempre foram incentivadas por políticos, candidatos a vereador, prefeito, deputado. Fruto da falta de uma política séria de habitação.
Sem uma política de financiamento para a população de baixa renda construir ou comprar imóvel, a população acabou tomando áreas de manancial,áreas de várzea, encostas de morro sem qualquer infra-estrutura. Os desastres são iminentes.
Enquanto o metrô entra em colapso, pelas estações há cartazes espalhados falando sobre a “expansão” das linhas... para 2010, 2012, 2014. É a cara do nosso governador, o vampiro paulista!

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Gênesis


E no quinto dia
disse Deus: façamos
o homem à nossa
imagem!
“E criou Deus o homem à sua imagem:
à imagem de Deus criou; homem e
mulher os criou.”
E disse Deus: frutificai e multiplicai-vos.
No sexto, Ele descansou.

No sétimo dia, aproveitando-se
da distração de Deus, o homem começou
a danar-se na fornicação e a povoar a Terra.
Descobriu o fogo, as primeiras ferramentas,
as primeiras armas. E começou a queimar florestas;
a derrubar árvores, a matar animais.

E milhões de anos se passaram até
Darwin teorizar sobre a
evolução das espécies.
E o homem se fez Deus!
Nietzsche matou Deus,
e Deus matou Nietzche.
E o homem subiu às estrelas, e construiu
máquinas, e achou-se dono de tudo!

E como dono de tudo
achou-se no direito de destruir o mundo.
E Deus fechou os olhos e chorou.

Luís Brandino, 3 de fevereiro de 2010