terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

A marvada pinga


Você pagaria R$ 310,00 numa garrafa de cachaça? É o quanto custa uma Havana 12 anos, safra especial!
Há uns 20 anos, a cachaça (pinga, paraty, cana, caninha) não era uma bebida apreciada pelos mais abastados (ao menos em público). A cachaça era desprestigiada e alguns bares mais chiques sequer a comercializavam. A desculpa era para manter “o nível”. A pinga era destinada aos “pé de chinelo”, aos “pés de cana”. Hoje tem até cachaçólogo. Coisas do mundo globalizado.
Mouzar Benedito, escritor e contador de história, tem uma crônica impedível sobre o assunto. Reproduzo um trecho do texto:
“A cachaça era desprestigiada, considerada bebida de pobre. E com o preconceito existente, também bebida de negro. Pegava mal tomar cachaça, a não ser sob a forma de caipirinha. Até em cidades do Nordeste encontrei bares que tinham preconceito contra ela. Muitos deles não vendiam pinga pura.
Cito como exemplo a primeira vez que fui à Paraíba, em janeiro de 1978, com um bando de estudantes amigos.
Depois de uns dias no interior, fomos para João Pessoa. Nessa época, a cidade era bem menor e praticamente não havia prédios de apartamentos na orla.
Fomos a um bar em Tambaú, com amigos paraibanos, algumas pessoas pediram cerveja, outras pediram caipirinha e eu pedi cachaça e cerveja.
O garçom disse que não “trabalhavam” com cachaça.
— Uai… Pediram caipirinha e você disse que tem — protestei.
— Caipirinha é diferente — respondeu ele, na maior cara de pau.
Olhei sério pra ele e pedi:
— Então me traga uma caipirinha sem gelo, sem açúcar e sem limão.
Ele trouxe!”