terça-feira, 16 de março de 2010
A greve, o governo e os jornais
Há tempos não apareço neste espaço, nem sei mais se tenho algum leitor. Como alguns sabem, sou funcionário do Sindicato dos Professores (APEOESP) e eles estão em greve. Portanto, o trabalho, neste período, quadruplica.
Quero aproveitar para falar um pouco da greve. Como tenho lado nesta história, alerto os leitores que posso cometer excessos.
A APEOESP tem tomado pau de tudo o que é lado. A imprensa paulista, claramente favorável a José Serra, tem tido um papel lamentável na cobertura da greve. As matérias são todas editorializadas; os repórteres “compram” as informações oficiais sem sequer desconfiar da fonte – um bom jornalista tem sempre que se perguntar: por que este cara está mentindo para mim? Mas eles só desconfiam do sindicato. O governo usa a estratégia de dizer que a greve atinge 1% da categoria. Vira lei. Agora, o discurso é que a greve é política, contraponto PT e PSDB. É claro que a greve é política. Não quero, nestas curtas e tortas linhas exaurir o conceito de política, mesmo porque o termo daria uma tese de mil páginas, ou um curso universitário inteiro. Mas só para esclarecer, tendo como bengala o Dicionário de Política organizado pelo italiano Norberto Bobbio, o termo política deriva-se do adjetivo “originado de pólis (politikós), que significa tudo o que se refere à cidade e, conseqüentemente, o que é urbano, civil, público, e até mesmo sociável e social (…). O conceito de Política, entendida como forma de atividade ou de práxis humana, está estreitamente ligado ao de poder. Este tem sido tradicionalmente definido como 'consistente nos meios adequados à obtenção de qualquer vantagem' (Hobbes) ou, analogamente, como conjunto dos meios que 'permitem alcançar os efeitos desejados' (Russell).” Ou seja, há uma disputa de poder entre o governo e o sindicato. Portanto, toda greve é política, é uma briga de classes.
O governo mente, também, quando fala em salários. Diz que há professores que ganham R$ 6 mil por mês. Esconde que este salário é pago a um supervisor de ensino (cargo acima de diretor de escola) em fim de carreira. Sei o quanto os professores ganham mal. Minha esposa está para se aposentar como professora do Estado. Seu salário é ridículo pelo tempo que tem de casa, mesmo com todos os benefícios.
Além da imprensa ao seu lado, o governo conta com milhões de reais para gastar com propagandas nos meios de comunicação. Mente descaradamente. E, infelizmente, a população, mal formada e mal informada, compra as mentiras como verdades.
A luta é inglória. De um lado, Serra e seus asseclas com um exército praticamente invencível formado por golias; de outro, os professores, um David sem funda e sem pedras.
Estado mais rico da Federação, São Paulo paga a seus professores menos que seus colegas do Acre, de Roraima, de Alagoas, de Tocantins, do Mato Grosso, do Espírito Santo. O Acre paga, por hora-aula, R$ 11,17; Roraima, R$ 10,23; Alagoas; Tocantins, R$ 10,10. O professor paulista que leciona da 5ª a 8ª séries do Ensino Fundamental e para o Ensino Médio (antigo colegial) recebe por hora-aula R$ 7,58. O professor da 1ª a 4ª séries, R$ 6,55. Agora pergunto, a greve é partidária?
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