quarta-feira, 23 de junho de 2010
Abre teus olhos
Para aqueles que gostam de samba, falar em Paulinho da Viola é chover no molhado. É um melodista de primeira grandeza. Estava à toa em casa ouvindo rádio quando tocou Mar Grande, de Paulinho e Sérgio Natureza – “Se navegar no vazio/ É mesmo o destino/ Do meu coração/ Parto pra ser esquecido/ Navio perdido/ Na imensidão”.
Descobri que não tinha esta música em nenhum CD do Paulinho que tenho em casa. Queria a letra. Não tive dúvidas. Recorri à minha biblioteca digital, o sr. Google. Achei o sítio oficial do compositor carioca.
Na busca pela letra, percebi uma coisa interessante. Os títulos das músicas – nem todos claro – formavam um diálogo interessante, muitas vezes poético. Foi aí que resolvi fazer uma brincadeira com os títulos das músicas. Ficou interessante, acompanhe:
Abre teus olhos
a gente esquece
amor é assim
aquela felicidade
cadê a razão?
Coisas do mundo, minha nêga.
Depois de tanto amor
é difícil viver assim
feito passarinho
foi demais
jurar com lágrimas
foi um rio que passou em minha vida
Não é assim
não leve a mal
não quero vingança
não quero você assim
O acaso não tem pressa
onde a dor não tem razão...
Perdoa
segunda-feira, 21 de junho de 2010
Agora vai?
Brasil 3, Costa do Marfim 1. Para os mais otimistas, o Brasil reencontrou o bom futebol, o futebol arte; os pessimistas – ou augorentos de plantão – desdenham do placar e do adversário. Afinal, Costa do Marfim participa de um Mundial pela segunda vez; no anterior, ficou em 19º (se não fosse o pai de santo Google, que não deixa uma consulta sem resposta).
Não sou otimistas, mas tampouco agourento. Gostei da seleção – acho que os jogadores resolveram fazer tudo ao contrário do que o Dunga mandou – e de um jogador em especial: Luís Fabiano. Fez um golaço – usando o braço, sim, o que não tirou o brilho da jogada!
Kaká, que até atuou melhor do que na primeira partida (para alguns analistas, um dos melhores em campo), mostrou ingenuidade. Irritou-se com as porradas que vinha recebendo, mas sequer soube revidar. Deixou claramente o corpo para o jogador de Costa do Marfim trombar nele; tudo que o que o adversário queria. Sei não, Kaká não está em seu melhor momento. O jornalista Juca Kfouri disse na “Folha” que ele vem jogando no sacrifício. É um problema nas próximas fases, em que os jogos são eliminatórios.
Como disse o Nevelli de Almeida, mesmo mal, a seleção brasileira é boa. E assim vamos caminhando. Como não sou otimista e tenho minhas reservas contra Dunga fico com um pé atrás. Só o tempo poderá responder.
Portugal goleia
Portogallo deu show. Fez 7 a 0 na Coreia do Norte, com gols de Simão Sabrosa, Hugo Tiago (2), Raul Meirelles, Liédson – olha ele aí, gente! – e Cristiano Ronaldo. Aliás, será que o craque português desencantou?
Foi um belíssimo resultado, que praticamente garantiu vaga nas oitavas. O resultado tira um pouco o brilho da partida de sexta-feira contra o Brasil. Um empate garante a seleção lusa na próxima fase e garante o primeiro lugar à equipe canarinha.
O Chile venceu mais uma por 1 a 0. Derrubou os suíços. De grão em grão a galinha enche o papo...
quarta-feira, 16 de junho de 2010
Vitória sem encanto
O Brasil finalmente disputou a primeira partida nos gramados da África do Sul. Encarou a inexpressiva Coréia do Norte e decepcionou, apesar de vencer por 2 a 1. Foi uma vitória sem graça, sem tempero, sem encanto. O jogo foi feio, principalmente no primeiro tempo. Time quase amador, a Coréia do Norte plantou-se na defesa, mas o Brasil mostrou pouca criatividade no ataque. Kaká praticamente andou em campo. Robinho – que quer ser o melhor jogador do mundial – fez uma firula e outra; melhorou na etapa final, dando um belo passe para Elano fazer o segundo gol brasileiro.
Não dá para entender o Dunga e sua teimosia. Entendo pouco de futebol nem nunca sonhei ser jogador (sempre fui côncio de minha mediocridade) e muito menos técnico; mas como bom brasileiro, dou meus pitacos. Jogar com dois volantes – Gilberto Silva e Felipe Mello – e um meia pouco criativo, como o Elano, contra a Coréia, que contava com apenas um atacante. É dose. Ainda assim a “melhor defesa do mundo” (segundo alguns jornalistas ufanistas) conseguiu tomar um gol no apagar das luzes.
Luís Fabiano, que é um bom atacante, ficou isolado na frente, trombando com os zagueiros norte-coreanos, fazendo faltas ao invés de tomá-las. Sei não, se o time não melhorar, sofrerá ainda mais com a Costa do Marfim e Portugal – que empataram em 0 a 0, mas fizem um jogo bem melhor que Brasil e Coréia.
Até agora Copa não empolgou
Sei que ainda é muito cedo, pois só tivemos a primeira rodada, mas das 16 partidas disputadas, seis terminaram empatadas e só houve uma goleada: Alemanha 4, Austrália 0. A média de gols por partida é de 1,38, uma das piores da história, sem dúvida. Na Copa da Itália, em 1990, que considero uma das piores de todos os tempos, a média de gols na primeira fase foi de 2,1; em 1994, nos Estados Unidos, 2,08. Em 2002 (Japão e Coréia), a média foi de 2,8 gols por partida.
quarta-feira, 9 de junho de 2010
Piadinha classista
Um homem navegava com seu balão, por um lugar desconhecido. Estava completamente perdido. Foi quando avistou uma pessoa numa estradinha de terra. Reduziu a altitude do balão. Quando estava a 10 metros do chão, gritou:
- Hei, você aí, aonde eu estou?
Era uma jovem. Ela olhou para o balão e respondeu:
- Você está num balão a aproximadamente 10 m de altura!
Então o homem fez outra pergunta:
- Você é professora, não é?
A moça respondeu:
- Sim...puxa! Como o senhor adivinhou?
E o homem:
- É simples, você me deu uma resposta tecnicamente correta, mas que não me serve para nada...
Então a professora perguntou:
- O senhor é secretário da educação, não é?
E o homem:
- Sou...Como você adivinhou???
E a Professora:
- Simples: o senhor está completamente perdido, não sabe fazer nada e ainda quer colocar a culpa no professor.
- Hei, você aí, aonde eu estou?
Era uma jovem. Ela olhou para o balão e respondeu:
- Você está num balão a aproximadamente 10 m de altura!
Então o homem fez outra pergunta:
- Você é professora, não é?
A moça respondeu:
- Sim...puxa! Como o senhor adivinhou?
E o homem:
- É simples, você me deu uma resposta tecnicamente correta, mas que não me serve para nada...
Então a professora perguntou:
- O senhor é secretário da educação, não é?
E o homem:
- Sou...Como você adivinhou???
E a Professora:
- Simples: o senhor está completamente perdido, não sabe fazer nada e ainda quer colocar a culpa no professor.
terça-feira, 8 de junho de 2010
O candidato a candidato
Como ando sem tempo – e sem paciência – para pensar e, consequentemente, escrever, e como não posto nada neste humilde espaço, “roubei” um excelente artigo do professor Flávio Aguiar publicado no site da agência Carta Maior. Vale a pena. Vamos ao artigo:
O candidato a candidato
O candidato a candidato, por não ter nada a dizer, precisa das manchetes, para dar a impressão que está dizendo algo. Precisa produzir manchetes a mancheias, para dar a impressão de que está fazendo algo de verdade, quando na verdade não está fazendo muita coisa.
Flávio Aguiar
Não há pior candidato do que aquele que permanece candidato a candidato.
Quem é o candidato a candidato? É aquele que fica buscando sempre, e só isso, estar bem no filme... dos outros.
Normalmente, o candidato a candidato não tem o que dizer. Ou se tem, não pode dizer o que quer dizer, porque não condiz com o filme onde ele quer se dar bem. Então o candidato a candidato cai naquele limbo, onde não tem propriamente compromisso com o que venha a dizer, pois pode dizer qualquer coisa. Muitas vezes isso dá errado, porque nem sempre o que lhe vem a cabeça bate com o que está na cabeça dos outros. Por isso, normalmente o candidato a candidato dá cabeçadas e bate cabeça com a cabeça de muita gente.
O candidato a candidato é assim: redundante. Se descobre que alguma coisa que disse rendeu-lhe algo, mesmo que seja apenas no seu próprio arraial, fica martelando nisso como martelo em cabeça de prego, até achata-lo todo. Por quê? Porque o candidato a candidato precisa ter a certeza de estar mantendo atrás de si os correligionários que já conquistou, de medo de perde-los e com isso, como bote furado, deixar de captar outros, que não irão entrar num esquife que está fazendo água.
E por quê esse porquê? Por que o candidato a candidato, por não ter nada a dizer, precisa das manchetes, para dar a impressão que está dizendo algo. Precisa produzir manchetes a mancheias, para dar a impressão de que está fazendo algo de verdade, quando na verdade não está fazendo muita coisa. Ou se está, é apenas fazendo pouco dos que o ouvem, pois espera que acreditem que ele está fazendo algo importante, quando na verdade não está.
O candidato a candidato precisa de manchetes? Ah, estas são as partes difíceis. Porque então o candidato a candidato precisa de candidatos a mancheteiros que editem as manchetes que seus patrões, os donos dos veículos em que eles trabalham, querem que eles façam, para manchetear as virtudes do candidato a candidato que apóiam.
A dificuldade dessa operação começa porque os mancheteiros não podem por nas manchetes que mancheteiam a verdade sobre o que os donos dos veículos em que eles trabalham, ou seja, aquilo que esses donos querem que o candidato a candidato faça, se ganhar, mas que não querem que ele sequer diga, enquanto permanecer na corrida.
Para não dizer que não falei de pedras, quero dizer, de flores, vamos a alguns exemplos. Não pode sair uma manchete assim: “O nosso candidato, que é o candidato a candidato para vocês, leitores, vai privatizar tudo o que nós queremos e mais ainda”. Não que muitos leitores desses veículos não gostassem dessas candidatas a manchetes que jamais deixarão esse estado de gravidez nunca realizada. Mas é que ela poderia cair nos olhos de outros que não gostarão, e daí ir para a boca do povo, e aí os donos desses veículos começariam a ter urticária, alergia, perebas, essas coisas que lhes assaltam as peles quando ouvem expressões como “a boca do povo”, “a vontade do povo”, “a soberania popular” – ih, essa dá até convulsões em alguns.
Outros exemplos de manchetes que deverão ficar só em pensamento, como aqueles pecados que a gente cometia quando pequenos demais para comete-los por ações:
“Se o nosso candidato ganhar, bloqueará por todos os meios isso de desenvolvimento com consumo popular. Em troca, haverá bônus para todos os investidores no mercado de futuros, presentes e passados, e de secos e molhados”.
“Se o nosso candidato ganhar, Hillary Clinton vai mandar não só no Conselho de Segurança da ONU, como também no Ministério da Defesa do Brasil”.
“Nosso candidato vai isentar de impostos produtos essenciais, como o vinho francês, o uísque escocês, mesmo que seja naturalizado paraguaio, e o chapéu de caubói americano. Para compensar, vai sobretaxar produtos supérfluos, como o arroz com feijão, a caipirinha de cachaça (a de vodka russa, não!) e a tubaína.
E por aí vai.
Mas o problema é que o candidato a candidato é mais duro que carne de pescoço para produzir manchetes. Pobres mancheteiros! Têm chacoalhar mais a cabeça do que parafuso frouxo em espremedor de cana para produzir as desejadas candidatas a manchetes sobre o candidato a candidato! Por que o candidato a candidato, para agradar muitos e muitos sem se comprometer muito, tem que se voltar para minigâncias, nonadas, ninharias, frioleiras, inânias, nicas, nugas, mas sempre dando-se o ar de fazer verdadeiras maravalhas, espetaculosidades, dando sempre a impressão de estar roubando a cena quando na verdade está mesmo é tomando o tempo dos outros.
Então vem essa coleção de candidatas a pérolas de um colar, como se assim fossem preciosidades. “O candidato a candidato foi à missa”. “O candidato a candidato comungou”. “O candidato a candidato puxou uma Ave-Maria”. “O candidato a candidato acha que quem fuma enerva a Deus” (isso foi em outra igreja). “O candidato a candidato colocou o solidéu na cabeça” (isso vai ser em outra). E logo virão as inevitáveis “O candidato a candidato comeu um pastel”, e “O candidato a candidato segurou o feirante – ops – quero dizer – a filha do feirante no colo”.
(Não pensem que eu tenho algo contra ir à missa, comungar, etc. Mas é que no tempo em que eu fazia isso (hoje minha religião é entre eu e Ele, Ele e eu, nós dois numa demanda, nem ele ganha nem eu) aprendi que a gente devia fazer essas coisas com humildade e devoção, por amor do Amor, e não para sair no santinho.).
Mas isso não chega, só isso não ganha eleição. Daí vem outra: "candidato a candidato vai semear ministério no planalto". Opa, isso nào dá muito certo não. Tem gente no campo dele que acha que isso incha o Estado. Daí: "candidato a candidato diz que vai podar secretaria". Essa é fase agrícola. Depois vem a antropológica. Então vêm outras pérolas mais peroladas ainda. Tipo “Candidato a candidato acusa índio de ser o responsável pelo narcotráfico para destruir a nossa juventude”. “Mas é porque ele virou presidente do país vizinho! Mas também é demais, não é?” - pensarão muitos leitores desses veículos, que adoram o candidato a candidato” – “ter um ex-torneiro mecânico de presidente já é uma barra! Ou ter um ex-tupamaro no outro país vizinho. E imaginem então uma lutadora contra a nossa querida ditabranda de outrora chegar a presidência!”.
Como essa do índio rende juros e juras de amor no mercado desses leitores comprometidos com os jornais dos donos de jornal comprometidos com o candidato a candidato, este vai repetindo a dose, para permanecer nas manchetes: e dá-lhe índio responsável pela coca! Ou cúmplice. Ou corpo-mole, já que, para essa mentalidade, é isso mesmo que índio faz desde que Cabral chegou aqui: corpo-mole. “Depois ainda vem dizer que quer apito! Apito coisa nenhuma, índio quer mesmo é se fingir de morto, como dizia aquele excelente general americano”.
Ah, mas isso não chega. Porque ainda assim o candidato a candidato vai caindo e caindo nas pesquisas. Nem assoprando pra cima ele sobe. Então é preciso por-se mãos à obra para “desconstruir” – “destruir” seria melhor, mas as ogivas nucleares estão proibidas em nosso pais – a candidata do outro lado, porque ao contrário do candidato a candidato ela não é uma candidata a candidata, ela é uma candidata, com programa explícito e o escambau.
“Então venha a nós o vosso dossiê! Ela não fabricou um? Nem tentou? Não tem importância”, pensam alguns dos cartolas do candidato a candidato: “Nós fabricamos um para ela”. Quer dizer: “a gente fabrica a história do dossiê, e gruda nela”. “E venham um, dois, três, muitos dossiês!, como dizia aquele general americano que lutou no Vietnã!”.
E por aí a história se vai. Não sabemos ainda o que vai acontecer. Mas uma coisa certa. Mesmo que ganhe a eleição, quem nasceu pra candidato a candidato, jamais chegará a candidato de fato. Porque para isso é preciso estar à altura do Brasil. Só que o Brasil mudou de lugar e de tamanho. E ele nem aí.
Flávio Aguiar é correspondente internacional da Carta Maior em Berlim.
O candidato a candidato
O candidato a candidato, por não ter nada a dizer, precisa das manchetes, para dar a impressão que está dizendo algo. Precisa produzir manchetes a mancheias, para dar a impressão de que está fazendo algo de verdade, quando na verdade não está fazendo muita coisa.
Flávio Aguiar
Não há pior candidato do que aquele que permanece candidato a candidato.
Quem é o candidato a candidato? É aquele que fica buscando sempre, e só isso, estar bem no filme... dos outros.
Normalmente, o candidato a candidato não tem o que dizer. Ou se tem, não pode dizer o que quer dizer, porque não condiz com o filme onde ele quer se dar bem. Então o candidato a candidato cai naquele limbo, onde não tem propriamente compromisso com o que venha a dizer, pois pode dizer qualquer coisa. Muitas vezes isso dá errado, porque nem sempre o que lhe vem a cabeça bate com o que está na cabeça dos outros. Por isso, normalmente o candidato a candidato dá cabeçadas e bate cabeça com a cabeça de muita gente.
O candidato a candidato é assim: redundante. Se descobre que alguma coisa que disse rendeu-lhe algo, mesmo que seja apenas no seu próprio arraial, fica martelando nisso como martelo em cabeça de prego, até achata-lo todo. Por quê? Porque o candidato a candidato precisa ter a certeza de estar mantendo atrás de si os correligionários que já conquistou, de medo de perde-los e com isso, como bote furado, deixar de captar outros, que não irão entrar num esquife que está fazendo água.
E por quê esse porquê? Por que o candidato a candidato, por não ter nada a dizer, precisa das manchetes, para dar a impressão que está dizendo algo. Precisa produzir manchetes a mancheias, para dar a impressão de que está fazendo algo de verdade, quando na verdade não está fazendo muita coisa. Ou se está, é apenas fazendo pouco dos que o ouvem, pois espera que acreditem que ele está fazendo algo importante, quando na verdade não está.
O candidato a candidato precisa de manchetes? Ah, estas são as partes difíceis. Porque então o candidato a candidato precisa de candidatos a mancheteiros que editem as manchetes que seus patrões, os donos dos veículos em que eles trabalham, querem que eles façam, para manchetear as virtudes do candidato a candidato que apóiam.
A dificuldade dessa operação começa porque os mancheteiros não podem por nas manchetes que mancheteiam a verdade sobre o que os donos dos veículos em que eles trabalham, ou seja, aquilo que esses donos querem que o candidato a candidato faça, se ganhar, mas que não querem que ele sequer diga, enquanto permanecer na corrida.
Para não dizer que não falei de pedras, quero dizer, de flores, vamos a alguns exemplos. Não pode sair uma manchete assim: “O nosso candidato, que é o candidato a candidato para vocês, leitores, vai privatizar tudo o que nós queremos e mais ainda”. Não que muitos leitores desses veículos não gostassem dessas candidatas a manchetes que jamais deixarão esse estado de gravidez nunca realizada. Mas é que ela poderia cair nos olhos de outros que não gostarão, e daí ir para a boca do povo, e aí os donos desses veículos começariam a ter urticária, alergia, perebas, essas coisas que lhes assaltam as peles quando ouvem expressões como “a boca do povo”, “a vontade do povo”, “a soberania popular” – ih, essa dá até convulsões em alguns.
Outros exemplos de manchetes que deverão ficar só em pensamento, como aqueles pecados que a gente cometia quando pequenos demais para comete-los por ações:
“Se o nosso candidato ganhar, bloqueará por todos os meios isso de desenvolvimento com consumo popular. Em troca, haverá bônus para todos os investidores no mercado de futuros, presentes e passados, e de secos e molhados”.
“Se o nosso candidato ganhar, Hillary Clinton vai mandar não só no Conselho de Segurança da ONU, como também no Ministério da Defesa do Brasil”.
“Nosso candidato vai isentar de impostos produtos essenciais, como o vinho francês, o uísque escocês, mesmo que seja naturalizado paraguaio, e o chapéu de caubói americano. Para compensar, vai sobretaxar produtos supérfluos, como o arroz com feijão, a caipirinha de cachaça (a de vodka russa, não!) e a tubaína.
E por aí vai.
Mas o problema é que o candidato a candidato é mais duro que carne de pescoço para produzir manchetes. Pobres mancheteiros! Têm chacoalhar mais a cabeça do que parafuso frouxo em espremedor de cana para produzir as desejadas candidatas a manchetes sobre o candidato a candidato! Por que o candidato a candidato, para agradar muitos e muitos sem se comprometer muito, tem que se voltar para minigâncias, nonadas, ninharias, frioleiras, inânias, nicas, nugas, mas sempre dando-se o ar de fazer verdadeiras maravalhas, espetaculosidades, dando sempre a impressão de estar roubando a cena quando na verdade está mesmo é tomando o tempo dos outros.
Então vem essa coleção de candidatas a pérolas de um colar, como se assim fossem preciosidades. “O candidato a candidato foi à missa”. “O candidato a candidato comungou”. “O candidato a candidato puxou uma Ave-Maria”. “O candidato a candidato acha que quem fuma enerva a Deus” (isso foi em outra igreja). “O candidato a candidato colocou o solidéu na cabeça” (isso vai ser em outra). E logo virão as inevitáveis “O candidato a candidato comeu um pastel”, e “O candidato a candidato segurou o feirante – ops – quero dizer – a filha do feirante no colo”.
(Não pensem que eu tenho algo contra ir à missa, comungar, etc. Mas é que no tempo em que eu fazia isso (hoje minha religião é entre eu e Ele, Ele e eu, nós dois numa demanda, nem ele ganha nem eu) aprendi que a gente devia fazer essas coisas com humildade e devoção, por amor do Amor, e não para sair no santinho.).
Mas isso não chega, só isso não ganha eleição. Daí vem outra: "candidato a candidato vai semear ministério no planalto". Opa, isso nào dá muito certo não. Tem gente no campo dele que acha que isso incha o Estado. Daí: "candidato a candidato diz que vai podar secretaria". Essa é fase agrícola. Depois vem a antropológica. Então vêm outras pérolas mais peroladas ainda. Tipo “Candidato a candidato acusa índio de ser o responsável pelo narcotráfico para destruir a nossa juventude”. “Mas é porque ele virou presidente do país vizinho! Mas também é demais, não é?” - pensarão muitos leitores desses veículos, que adoram o candidato a candidato” – “ter um ex-torneiro mecânico de presidente já é uma barra! Ou ter um ex-tupamaro no outro país vizinho. E imaginem então uma lutadora contra a nossa querida ditabranda de outrora chegar a presidência!”.
Como essa do índio rende juros e juras de amor no mercado desses leitores comprometidos com os jornais dos donos de jornal comprometidos com o candidato a candidato, este vai repetindo a dose, para permanecer nas manchetes: e dá-lhe índio responsável pela coca! Ou cúmplice. Ou corpo-mole, já que, para essa mentalidade, é isso mesmo que índio faz desde que Cabral chegou aqui: corpo-mole. “Depois ainda vem dizer que quer apito! Apito coisa nenhuma, índio quer mesmo é se fingir de morto, como dizia aquele excelente general americano”.
Ah, mas isso não chega. Porque ainda assim o candidato a candidato vai caindo e caindo nas pesquisas. Nem assoprando pra cima ele sobe. Então é preciso por-se mãos à obra para “desconstruir” – “destruir” seria melhor, mas as ogivas nucleares estão proibidas em nosso pais – a candidata do outro lado, porque ao contrário do candidato a candidato ela não é uma candidata a candidata, ela é uma candidata, com programa explícito e o escambau.
“Então venha a nós o vosso dossiê! Ela não fabricou um? Nem tentou? Não tem importância”, pensam alguns dos cartolas do candidato a candidato: “Nós fabricamos um para ela”. Quer dizer: “a gente fabrica a história do dossiê, e gruda nela”. “E venham um, dois, três, muitos dossiês!, como dizia aquele general americano que lutou no Vietnã!”.
E por aí a história se vai. Não sabemos ainda o que vai acontecer. Mas uma coisa certa. Mesmo que ganhe a eleição, quem nasceu pra candidato a candidato, jamais chegará a candidato de fato. Porque para isso é preciso estar à altura do Brasil. Só que o Brasil mudou de lugar e de tamanho. E ele nem aí.
Flávio Aguiar é correspondente internacional da Carta Maior em Berlim.
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