O velho e bom Maquiavel – o pensador político mais controverso, mas também o mais estudado – ensina em O Príncipe que para manter o poder o governante que conquista um reino tem de fortalecer os fracos, mas na medida em que não representem nenhum perigo, e massacrar seus inimigos. A ética de Maquiavel não é a ética cristã ocidental, mas a ética política, que se encerra em si mesma e depende das circunstâncias. Portanto, a ideia de se massacrar os inimigos para manter-se no poder é perfeitamente aceita. O príncipe, contudo, não deve ser tirânico o tempo todo, e sim ter como objetivo maior promover o bom governo, ou seja, governar para o bem comum.
O ex-inquilino do Palácio dos Bandeirantes e postulante (ainda pré-postulante, como quer a lei) ao cargo político mais alto do País, a presidência da República, certamente leu Maquiavel. Não mede esforços para massacrar aqueles que se colocam em seu caminho.
Não mediu esforços para tentar massacrar o sindicato dos professores – desde 1978, a pedra no sapato de todos os que governaram São Paulo. Contou para tanto com um aliado importante, a imprensa paulista; na verdade, a benevolência das famílias Frias, Mesquita e Marinho.
Numa das assembleias dos professores que aconteceu nas proximidades do Palácio dos Bandeirantes, quando então o pré-candidato ao Palácio do Alvorada ainda nem era pré, a presidente do sindicato desancou o governador. Disse que teria a espinha dorsal quebrada pelos grevistas. A imprensa, mais do que de pressa, leu o discurso sindical (fazê-lo dobrar-se para que aceitasse negociar com a categoria) com roupagem eleitoreira – prejudicar a candidatura do governador. Ora, como prejudicar a candidatura se à época ela nem existia? Aliás, nem existe ainda perante a lei.
O DEMO-PSDB entrou na Justiça Eleitoral contra o sindicato por “contra-propaganda”. A denúncia foi aceita pela procuradoria-geral da República, que pediu multa de R$ 50 mil contra o sindicato. Na edição de sábado, o “Jornal da Tarde” – do grupo Estadão, que anuncia sofrer censura da Justiça – publicou editorial elogiando a procuradoria e pedindo “multa pesada para enquadrar Apeoesp na lei”. “Atingir finanças do sindicato dos docentes é meio de evitar que sabote a democracia de forma arrogante.” Ora, a democracia pressupõe o conflito de ideias. Só assim ela se consolida. Mas ao que parece, o ex-inquilino do Palácio dos Bandeirantes e seus asseclas (a imprensa paulista à frente) não gostam do confronto de ideia. Colocam-se acima do bem e do mal.
Para o grupo Estado, o sindicato dos professores fez propaganda negativa contra Serra, por isso deve ser punida. Se o raciocínio for nesta linha, também o grupo midiático deveria ser punido, pois esforça-se sobremaneira para fazer propaganda negativa da pré-candidata petista. Aliás, o próprio governo do Estado, que faz propaganda mentirosa na TV. Mostra as novas estações da linha 4 do Metrô, que ainda não estão abertas ao público, como se estivessem em plena atividade. Isto pode!
Aliás, a Lei Eleitoral – que me perdoem os magistrados – é hipócrita. É claro que concordo que tem de se estabelecer regras num pleito tão importante; mas todos sabem que são os candidatos, eles debatem ideias nos jornais e na TV, mas ninguém pode dizer que são candidatos. O TSE deveria preocupar-se em estabelecer regras mais rígidas com relação ao financiamento das campanhas -- porque será que a maior parte dos partidos não quer a reforma política, que previa financiamento público para as campanhas eleitorais? Serra tem feito viagens por todo o País a bordo de um jatinho de um banqueiro. Participou neste final de semana de um ato com evangélicos em Santa Catarina. O evento recebeu R$ 540 mil dos cofres do governo do Estado e da prefeitura de Camboriú. Cada um constrói sua própria ética...
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