quarta-feira, 23 de março de 2011
Henfil
Acho que estou ficando velho, com saudades do passado. No sábado o “Estadão” trouxe uma matéria falando que estão “redescobrindo” Elis Regina! Redescobrindo?, me indignei. Depois de pensar um pouco, concordei: Elis Regina faleceu em janeiro de 1982, ou seja, há 29 anos! Para minha geração Elis está mais viva do que nunca, afinal, sempre canta lá em casa. Estão previstos lançamento de livros, exposição, vídeo e biografia. Outro que mereceria uma “redescoberta” é Henfil, com a reedição de sua obra. Tá certo que o humor, especialmente o político, pode ser datado, mas as novas gerações têm o direito de conhecer suas obras, de se deliciar com seus personagens, como os fradinhos Cumprido e Baixim. Em homenagem a este grande brasileiro, publico uma “tirinha” (acima) e uma de suas “Cartas à Mãe”:
São Paulo, 26 de dezembro de 1979.
Mãe,
Aqui estou eu, em mais um Natal, fazendo desta carta meu sapato colocado na janela.
Eu fui bom este ano, mãe. Eu acho que fui muito bom. Eu fui solidário com todos os meus irmãos Betinhos. Fiz greve com todos os Lulas. Quebrei Belo Horizonte como todos os peões. Voltei pro país que me expulsou como todos os Juliões. Dei murro em ponta de faca como todos os Marighellas. Cantei as prostitutas, as mulheres de Atenas e joguei pedra na Geni como todos os Chicos Buarques. Aspirei cola como todos os pixotes. Fui negro, homossexual, fui mulher. Fui Herzog, Santo Dias e Lyda Monteiro.
Fui então muito bom este ano, mãe.
Aqui está minha carta sapato.
Vou fechar os olhos, vou dormir depressa.
Esperando que meia-noite todos entrem pela minha janela. Me façam chorar de alegria, que eu quero viver!
A bênção,
Henfil
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uau! há textos que conforme a música, nos encostam na parede: ..."que perguntar carece, como não fui eu que fiz?"(Tunai & Milton). Mulher/canção como é a Elis, estará sempre forte entre nós. E o Henfil,não canso de folhear as revistas que ainda guardo,pois são 'atuais', são as tais fotos do dia, sempre trazendo aquele passado que não é pra ser esquecido mas sim, transformado aqui.
ResponderExcluirFernando Prearo(Pisca)
O que mais impressiona na obra de Henfil é que ela é mais atual que nunca. Ou seja, mesmo com todo o avanço social dos últimos anos, ainda estamos longe de constituir uma Nação, com "N" maiúsculo, que respeite seus cidadãos concedendo-lhes condições dignas de vida. E que saudades de Elis, hein? Já imaginou o que esta mulher estaria fazendo hoje, com toda essa tecnologia a seu dispôr? Abraços, velho!
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