quarta-feira, 22 de setembro de 2010

A democracia "deles"

Intelectuais devem lançar hoje, quarta-feira, 22, “Manifesto em Defesa da Democracia”, cuja meta, segundo o jornal “O Estado de S. Paulo”, é o de “brecar a marcha para o autoritarismo”. Ao ler a cabeça da matéria, pensei: “Nossa, o 'Estadão' está denunciando o José Serra?” Bem, não sou ingênuo o bastante. Mas se há alguém com perfil autoritário concorrendo às eleições presidenciais esta figura é o senhor José Serra, que não aceita qualquer tipo de crítica. Serra mandou demitir uma jornalista da “Folha de S. Paulo” porque, durante a greve dos professores, “ousou” contestar dados que ele passava à imprensa numa coletiva no Palácio dos Bandeirantes. Nenhum intelectual, muito menos os jornalistas, levantaram qualquer bandeira em defesa da “liberdade” de imprensa; mais recentemente, mandou demitir o diretor de jornalismo da TV Cultura, porque ele “permitiu” que a emissora veiculasse num de seus programas jornalísticos matéria criticando o preço dos pedágios praticados nas principais rodovias do Estado de São Paulo. Não vi manifestação de nenhum intelectual em defesa do jornalista.
Quando Lula ganhou a eleição em 2002, derrotando o próprio Serra – 63% dos votos a 38,7% – disse a um colega: “No primeiro deslize do Lula no governo, a imprensa vai descer o pau!” Inebriado pela vitória, contestou minha análise. Não demorou muito para a “lua-de-mel” da imprensa com o novo governo – o primeiro eleito pela esquerda – transformar-se em “lua de fel”. Nestes 8 anos, a imprensa não economizou adjetivos pejorativos para referir-se a Lula. O presidente não cortou verbas publicitárias de nenhuma revista, nenhum jornal ou rede de TV.
Acontece que nesta campanha eleitoral, a grande mídia não vem desempenhando o papel de partido político, publicando uma série de matérias cujas denúncia não se sustentam, mas que ganham suítes diariamente. Este não é bom jornalismo. Ademais, não se dá para falar de LIBERDADE de imprensa quando os principais meios de comunicação do país ficam nas mãos de meia dúzia de famílias aristocráticas e de políticos minúsculos.
Em excelente artigo publicando pela Agência Carta Maior, Por que a grande mídia e a oposição resolveram jogar sujo, Vinicius Wu sintetiza bem a celeuma: “A grande mídia e a oposição não compreenderam que o país entrou em um novo período histórico e, desta forma, correm o risco de ficarem falando sozinhas por um bom tempo. As pessoas não estão votando em personalidades, como supunham os próceres da campanha Serra. Estão votando no futuro - no seu futuro e no futuro do país. A disputa eleitoral de 2010 não ficará marcada pelo 'confronto de biografias', como imaginavam os tucanos e seus aliados no início da campanha. Derrotados em seus próprios conceitos; perplexos diante de uma ampla maioria que lhes vira as costas, só lhes resta o golpe, que não tem força pra dar.”

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