segunda-feira, 18 de outubro de 2010

A fé como embuste


É impressionante o que a despolitização de um povo (ou parte dele, pelo menos) pode fazer mal a um país. Chegamos ao cúmulo de transformarmos a eleição num plebiscito sobre a liberalização ou não do aborto – e com o apoio de parte dos meios de comunicação. Ora, fossem os que se dizem religiosos pouco mais informados saberiam que esta questão – mudanças nas leis – se dá em âmbito do Congresso Nacional. Aliás, esta mesma discussão está em pauta no Congresso desde 1995. Há 15 anos, portanto!
Mas a direita brasileira sabe muito bem usar o desconhecimento do povo. Afinal, durante mais de 500 anos apostam na ignorância para impôr sua ideologia de dominação.
Nestas eleições, especialmente, o jogo da direita tem sido muito baixo. Sem propostas para a construção do futuro do País, a campanha de Serra tem apostado no terrorismo da boataria, explorando – com competência, é preciso dizer – a ignorância e os medos de uma boa parcela do eleitorado. Collor de Mello utilizou-se deste mesmo expediente contra o Lula, nas eleições de 1989. Os “colloridos” à época diziam que Lula iria “implantar o comunismo", tomar a casa das pessoas, as galinhas, os patos, os porcos, os carros. Deu no que deu. Se voltarmos 46 anos no relógio do tempo, nos depararemos com movimento reacionário que gerou consequências muito maiores. Em 1964, um padre irlandês – Patrick Peyton – liderou e fundou uma entidade chamada “Movimento da Cruzada do Rosário pela Família”. Este movimento foi o embrião da “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”, que precipitou a derrubada do presidente João Goulart pelo golpe militar.
Ao apostar no voto e na influência dos setores mais conservadores da Igreja Católica Romana e entre as denominações evangélicas, o candidato Serra foi longe demais. Num cartão entregue a professores “convocados” pela Secretaria da Educação para um evento com o candidato tucano no dia 15, Serra escreveu no verso: “Jesus é a verdade e a justiça”.
O que diria o padre que fez minha “primeira comunhão”, e que vivia insistindo: “Não usarás o nome do Senhor em vão” (Ex 20, 7 )?
Desde a Proclamação da República, em 1889, o Estado brasileiro é laico. Com quais interesses um candidato usa o nome de Jesus Cristo numa campanha eleitoral? O de apenas embustear aqueles que têm fé?
É preciso lembrar que no evangelho de Mateus há o seguinte versículo: “Nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos céus, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus.” (Mt 7, 21)

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