quinta-feira, 21 de outubro de 2010

O espião do Aécio ou como a“Folha” descobriu o ovo


Encerrada estas eleições, os cientistas da comunicação terão um prato cheio para desenvolver pesquisas sobre a cobertura das eleições presidenciais. Na edição de ontem, 20, a “Folha” trouxe a seguinte manchete: “PF liga quebra de sigilo fiscal de tucano à pré-campanha de Dilma”. Diz o jornal que o jornalista Amaury Ribeiro Jr. encomendara a quebra de sigilo fiscal de pessoas ligadas ao PSDB. A “Folha” descobriu o ovo. No mesmo rastro e com a mesma toada, o “Estadão” de hoje traz chamada de capa dizendo que jornalista ligado ao PT pagou por dados de tucanos. Num quadro, “explica” que PT atribui caso a Aécio.
Aos fatos. O caso da quebra de sigilo do IR, que retorna às capas dos jornalões, teria vindo à tona em 2009. Numa das edições de maio deste ano, a revista “Veja” requentou matérias publicadas no ano passado como fosse uma grande “denúncia”. No dia 4 de junho, o jornalista Leandro Fortes, da Carta Capital, publicou um texto intitulado “Dossiê do dossiê do dossiê” (publicado na íntegra neste blog), onde já apontava o jornalista Amaury Jr. como autor do tal “dossiê”:
“Carta Capital teve acesso a parte do tal 'dossiê' (…) Trata-se, na verdade, de um livro ainda não publicado com 14 capítulos intitulados “Os porões da privataria”, do jornalista Amaury Ribeiro Jr. (…) Ribeiro Jr. afirma que a investigação que desaguou no livro começou há dois anos. À época, explica, havia uma movimentação, atribuída ao deputado Marcelo Itagiba (PSDB-RJ), visceralmente ligado a Serra, para usar arapongas e investigar a vida do governador tucano Aécio Neves, de Minas Gerais. Justamente quando Aécio disputava a indicação como candidato à Presidência pelos tucanos. 'O interesse suposto seria o de flagrar o adversário de Serra em situações escabrosas ou escândalos para tirá-lo do páreo', diz o jornalista. 'Entrei em campo, pelo outro lado, para averiguar o lado mais sombrio das privatizações, propinas, lavagem de dinheiro e sumiço de dinheiro público.'”
George Orwell não faria melhor. Em seu mais famoso livro, 1984, Orwell faz uma alegoria sobre o totalitarismo, comandando pelo onipresente Grande Irmão (Big Brother), e conta a história de Winston Smith, funcionário do Ministério da Verdade. A função de Winston é reescrever e alterar dados de acordo com o interesse do Partido. Os jornalões também estão reescrevendo a história e alterando dados de acordo com interesses próprios e de uma candidatura, em especial. O que temem nossos barões da imprensa com a eleição de Dilma?

Um comentário:

  1. Bello, a cobertura da imprensa nesta eleição presidencial foi uma das páginas mais vergonhosas de nossa história. Houve momentos em que me senti envergonhado de ser jornalista. Felizmente, o final foi a contento e o país vai continuar crescendo. Mas as forças do retrocesso estarão sempre atentas. Como nós temos que ficar. Abraço,

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