terça-feira, 4 de agosto de 2009

Ah, nossa imprensa

Na segunda-feira, 3, a colunista da “Folha de S. Paulo” Mônica Bergamo trouxe um “furo”, que mereceu até chamada de capa. Diz a nota que “Projeto de lei da Secretaria da Educação paulista quer condicionar o aumento de salário de professores ao desempenho em provas realizadas a cada três anos”. Que minha amiga Mônica me desculpe, mas pareceu-me mais um balão de ensaio do governo, uma nota plantada – o Gilberto Dimenstein, que é do Conselho Editorial da “Folha”, também publicou nota em seu site na mesma data.
No dia seguinte os outros jornais repercutiram a nota. Jornal editado pelo “Grupo Folha”, o “Agora” trouxe matéria com a seguinte manchete: “Salário de professor poderá chegar a R$ 7.000”. A matéria afirma que o secretário de Educação, Paulo Renato Souza, confirmara os detalhes do projeto durante um evento no Itaú Cultural. Parágrafos depois, a matéria afirma: “Procurada ontem, a Secretaria de Educação não confirmou as informações”. O “Estadão” vai pelo mesmo caminho.
Cabe a pergunta: o tal projeto existe mesmo ou não passa de uma intenção do governo? Se não passa de uma mera especulação do governo, as matérias deveriam abordar o assunto: secretário e subordinados não se entendem. Os títulos das matérias deveriam ser: “Secretaria nega existência de projeto que vincula salário de professor a desempenho”; ou então algo parecido com “Governo estuda vincular salários a desempenho”. Quem está mentido, o titular da pasta ou os seus assessores? Nenhuma das matérias levanta a lebre. Simplesmente compram o discurso oficial sem questionar. Como diz o símio Simão, “é mole?” Eta jornalismo chapa branca, sô!

O cigarro nosso de cada dia - 3

Já tem gente faturando com a lei anti-fumo. Na segunda, 3, pela manhã flagrei um rapaz vendendo um adesivo da campanha ao dono do bar por R$ 4,00. São os espertalhões em ação. Eta povinho. O que poucos sabem é que os avisos podem ser “baixados”, de graça, no sítio do governo do Estado.

O cigarro nosso de cada dia - 2

Dia destes estava num bar com amigos molhando a palavra. Um conhecido de um dos meus amigos aproximou-se de nossa mesa. Puxou uma cadeira e sentiu-se no direito de entrar na conversa. De repente, sem mais nem menos, voltou-se para mim e disse:
– Tenho uma péssima notícia pra te dar. Você fuma muito, assim você vai morrer.
Respondi de pronto: “Também tenho uma péssima notícia para te dar. Você também morrerá. É a lei da natureza, meu caro”.
Amóz Oz, excelente escritor israelense, publicou uma pequena pérola onde discute a intolerância, tentendo entender o que acontece em seu País com a insana disputa entre judeus e muçulmanos (palestinos). Não recordo-me o título do livro (é a idade, é a idade!), mas Oz define muito bem estes metidos a besta: aqueles que se intrometem na vida dos outros são intolerantes. É verdade. Sempre digo que não gostaria de morrer saudável. É chato.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

O cigarro nosso de cada dia – 1

Contagem regressiva: daqui a quatro dias entra em vigor no Estado de São Paulo a Lei anti-fumo. O assunto é polêmico. Agrada aos não-fumantes e provoca a ira dos viciados em tabaco. Sou fumante há mais de 20 anos; já tentei parar algumas vezes. Consegui por longos dezoito meses, mas voltei a soltar fumaça. Não considero-me vencido pelo vício, um fracassado. Voltei a fumar porque gosto. Sou, até onde é possível ser, um fumante educado. Evito fumar em restaurantes, por exemplo. Ou nas casas de amigos não fumantes (no quintal pode, né?). No trabalho, uso o “fumódromo”. Agora, fumaremos na rua.
O que me desagrada nesta questão é um governo controlar por lei o que pode ou não fazer uma pessoa adulta. Daqui a pouco algum governante ferrenhamente vegetariano elaborará uma lei proibindo a existência de churrascarias porque a carne vermelha faz mal à saúde.
Sei que muitos podem pensar: mas que argumentinho mais chocho, o cigarro faz mal à saúde não só ao fumante, mas aos fumantes passivos, o Serra está certo! Você não deixa de ter razão, mas o que me incomoda é a hipocrisia.
Uma das peças publicitárias veiculadas pelo governo do Estado de São Paulo é hilária – e hipócrita. Aparece o dr. Varela (não sei se é implicância minha, mas ele tem uma cara de moribundo!) dentro de um bar fazendo o discurso anti-tabagismo. A câmera o acompanha em sua viagem por diversos compartimentos da casa noturna até chegar à rua. O dr. Varela termina o discurso dizendo algo parecido com “todos têm o direito a respirar melhor”. Respirar melhor? Meu Deus!
Recente pesquisa realizada pela USP – e divulgada numa pequena matéria de pé de página pelo jornal “O Estado de S. Paulo” – revelou que 65% das doenças respiratórias são provocados pela poluição emitida pelos automóveis. Ou seja, quem não dirige ou tem automóvel pode ser acometido por doenças respiratórias. Não vi ninguém fazer campanha contra o uso de automóveis.

Cerveja na Casa Branca

No dia 30 de julho, quando sorvia uma cerva gelada – lamentando que minhas férias chegavam ao fim – li uma notinha no “Estadão” que o presidente norte-americano Barack Obama, e seu vice, Joe Biden, recebiam na Casa Branca o professor Henry Louis Gates Jr e o policial James Crowley para uma cervejada. O intuito era selar a paz entre o professor e o policial pelo incidente racial deflagrado quando Crowley prendeu Louis Gates, que arrombara a própria casa.
Aos fatos: duas semanas antes, o professor Louis, que é negro e leciona em Harvard, uma das mais conceituadas universidades americanas, chegara em casa e descobrira que a fechadura estava emperrada. Com a ajuda do motorista, arrombou a porta. O fato chamou a atenção de vizinhos, que avisaram a polícia. O policial Crowley chegou rapidamente à luxuosa casa na valorizada região de Cambridge, Massahusetts. Encontrou um homem negro dentro da residência e pediu que ele saísse. O homem se recusou. Então, o policial exigiu que o homem se identificasse. O professor identificou-se e pediu para que não fosse incomodado. A discussão se acalorou e o policial, com a ajuda de outros colegas, prendeu o professor.
Amigo do professor, o presidente Obama acabou dando um puxão de orelhas no policial. Depois voltou atrás e fez o convite para que selassem a paz tomando cerveja na Casa Branca.
O fato daria uma tese sobre a questão do racismo nos Estados Unidos, ainda não superada – nem lá e nem aqui, mas isto é uma outra história.
Quero chamar a atenção para um fato: a imprensa tupiniquim não fez qualquer menção de desaprovação ao fato de o presidente e o vice dos EUA convidarem alguém para tomar cerveja na Casa Branca. Fosse o presidente Lula o anfitrião, os comentários maldosos teriam pipocado na imprensa e nos programas de TV. Coisas de nossa imprensa capurreira.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Pernas pro ar

Aos três ou quatro leitores deste humilde blog, peço desculpas pelo desaparecimento. É que estou curtindo merecidas férias. Por isso não serei tão constante nos comentários. Mas prometo não desaparecer.
"Na hora de descansar, descansar.
Na hora de trabalhar,
pernas pro alto que ninguém é de ferro".

Tenho dito!

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Uma dica de leitura

Sem saco para ler ou fazer outra coisa, dia destes estava vendo TV. Nada interessante para ver, até que parei na TV Cultura (a única emissora com algum conteúdo da televisão aberta, pelo menos em São Paulo). Peguei o final da entrevista com o jornalista Carlos Dornelles, agora na Record, no programa “Vitrine”. Ele contou uma história interessante. Disse que para não se estressar, não dirige em São Paulo. (Decisão sábia.) Pega muito táxi. Como é famoso, quase sempre é reconhecido pelos taxistas. Mais que depressa, os motoristas sintonizam o dial numa emissora de notícias. “Outro dia perguntei ao taxista o porque ele havia mudado de estação. Ele me respondeu: ora, o senhor é jornalista, tem que ficar por dentro das notícias. Respondi-lhe que quem gosta de notícia são taxistas, não jornalistas”. Dornelles tem razão. As pessoas pensam que informação é conhecimento. Não é bem assim. A quantidade de informação que recebemos hoje é de enlouquecer qualquer um. O pior é que as pessoas escutam – ou leem – as notícias sem fazer qualquer reflexão, sem questionar.
É preciso que tenhamos mais de uma fonte de informação para que possamos tirar conclusões. E sabermos qual a ideologia daquele veículo que nos vende tal informação; qual o posicionamento político, econômico.
Tenho minhas preferências de leitura, é óbvio. A revista “Veja”, por exemplo, deixei de ler há 20 anos, por alguns motivos. Em primeiro lugar, porque é uma revista elitista e preconceituosa; em segundo lugar, porque tem uma pauta editorializada. Quando leio uma revista, busco informação, não opinião que tem como fim último “fazer minha cabeça”.
Gosto muito da revista “Fórum”, que surgiu numa das edições do “Fórum Social Mundial”. É claro que tem uma vertente mais à esquerda, mas não é editorializada. Sempre traz ótimas matérias. Serve como contraponto à imprensa comercial. Por isto eu a recomendo.

Sério Cortela

A edição 75, que está nas bancas, traz como destaque de capa uma entrevista com o filósofo, teólogo e educador Mario Sérgio Cortella. Na entrevista, Corella, professor da PUC-SP, faz um histórico das políticas educacionais no Brasil. Estou cansado de ver economistas dando opinião sobre a educação pública no Brasil. Aliás, como diz minha esposa, uma educadora, todo mundo opina sobre educação no Brasil, do porteiro do prédio ao policial, menos o professor.
Alguns trechos da entrevista:
“O Brasil é um país que fez 509 anos de fundação, mas o Ministério da Educação foi fundado em 1930. Antes de 1930, não havia nenhum órgão nacional que cuidasse da educação. Aliás, a primeira universidade brasileira de fato é a de São Paulo, fundada em 1934. Para se ter uma ideia, Peru, Bolívia, Paraguai já tinham universidades no século XVI”.

“Quando as elites de um país, propositadamente, não cuidam da educação pública, é um sintoma de que não há necessidade de fazê-lo para sustentação do seu poderio econômico. No período da República, a educação só entra como prioridade a partir de 1930, quando há a revolução liberal, graças a pioneiros como Anísio Teixeira e Fernando de Azevedo que levaram a essa lógica”.

“Por incrível que pareça quem vai potencializar de fato a educação como elemento de integração nacional será a ditadura militar. É ela que em 1964, ao assumir no golpe, gerencia a estrutura política e econômica até 1985 e vai dar uma certa integralidade a uma noção de educação pública.”

Por este e por outras dá para se entender a crise educacional. Você pode ler a íntegra da entrevista no sítio da revista: www.revistaforum.com.br .