sexta-feira, 6 de novembro de 2009
Lula, os argentinos e Caetano
Na quinta-feira, 5, recebemos no sindicato em que trabalho a visita de duas professoras argentinas, representantes do Sindicato Unificado de Trabajadores de la Educación de la Provincia de Buenos Aires. Em conversa informal, Esther Gomes Bermejo perguntou-nos sobre o governo Lula. Disse-nos que ele é muito admirado na Argentina. “Creio que é admirado em toda a América Latina”, arriscou.
Bermejo contou-nos ter estranhado a reação de algumas pessoas no Brasil em relação ao nosso presidente. “Contudo, compreendo. Na Argentina, o mesmo acontece em relação aos Kirchener, a elite não gosta deles (referindo-se ao casal, o ex-presidente e sua esposa, Cristina, que ocupa o comando da Casa Rosada)”. De acordo com a professora, a imprensa argentina posiciona-se claramente contra o governo. “Não é só contra a presidente da Argentina, não, demonizam o Chavez, o Evo Morales.” Não é muito diferente do que acontece no Brasil
O “Estadão”trouxe hoje, 6, a matéria “Sindicato pró-Kirchner sitia 'Clarín' e 'La Nación'”, dois jornais conservadores e de grande circulação. Aos fatos: o Sindicato dos Caminhoneiros realizou bloqueio para impedir a saída de caminhões que fazem entrega dos jornais, pois as empresas não cumpriram acordo de incluir os funcionários que trabalham com a distribuição de jornais e revistas ao sindicato dos caminhoneiros. A interpretação do jornalão: censura. Isto porque o presidente do Sindicato dos Caminhoneiros, Pablo Moyano, é filho de Hugo Moyano, secretário-geral da Confederação Geral dos Trabalhadores, que seria ligada ao governo. Ou seja, uma ação sindical – concorde-se com ela ou não – não pode ser traduzida como tentativa de censura aos jornais.
Grosseria
Gosto muito de Caetano Veloso como compositor. Marcou toda uma geração com suas belas canções. Mas quando posa de intelectual... Lembro-me que na década de 1980 travou polêmica com o jornalista Paulo Francis – então correspondente da “Folha” e da Globo em Nova York. Ninguém aguentava mais ler Caetano e Francis trocando farpas pelas páginas do jornal paulista. Em entrevista a Sônia Racy, do Estadão, na quinta, Caetano desancou Lula para dizer que vota na ex-ministra Mariana Silva: “Marina é Lula e é Obama ao mesmo tempo. Ela é meio preta, é uma cabocla. É inteligente como o Obama, não é analfabeta como o Lula, que não sabe falar, é cafona falando, é grosseiro”.
Como defendo as liberdades em geral, creio que todo mundo tem de ter suas preferências – sejam elas quais forem – e de defendê-las. Mas entendo que Caetano foi preconceituoso, grosseiro e muito infeliz em suas declarações. Escolheu mal as palavras. Suas declarações foram cafonas e grosseiras.
Caetano já criticou abertamente Chico Buarque por este apoiar o governo Lula. Pelo jeito, Caetano não defende as liberdades... Creio que tem uma raiva imensa do Lula porque o presidente convidou Gilberto Gil para assumir o Ministério da Cultura, não ele.
Sobre FHC
As declarações de Caetano Veloso provocaram orgasmos em parlamentares do DEMO e do PSDB. Lobos em pele de cordeiro que se colocam como bastiões da ética. Conhecemos a história de muitos deles. Aliás, a tucanada e os “demos” têm se mostrado de uma incompetência na oposição – ou seria inapetência para com o papel, afinal esta estirpe esteve no poder 500 anos no Brasil.
O ex-presidente Fernando Henrique, o verdadeiro pai do “mensalão”, de vez em quando dá umas gritas, tentando ensinar-nos sobre como ser um estadista – coisa que nunca foi. Sobre a postura de FHC, a melhor análise quem fez foi o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo: “O risco que ele corre é ficar parecendo o Salieri, que ficava criticando o talento de Mozart porque ele não conseguia ter o mesmo talento, não conseguir ter o mesmo reconhecimento”.
Em tempo: o italiano Antônio Salieri foi compositor oficial da corte de José II, Arquiduque da Áustria. Conta a lenda (nada é provado) que teria uma grande inveja de Wolfgang Amadeus Mozart. Esta versão foi criada pelo dramaturgo Peter Shaffer, depois adaptada para o cinema por Milos Formam, com o título Amadeus. Aliás, um belíssimo filme.
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