quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Zé Celso: Lula é antropófago


As declarações de Caetano Veloso à jornalista Sonia Racy, do Estadão (o porta-voz dos tucanos), publicadas na semana passada, deram o que falar (leiam nota abaixo). No “Caderno 2”, do mesmo Estadão, de terça, o ator, diretor e dramaturgo Zé Celso Martinez Corrêa, publicou um delicioso artigo, intitulado “Tropicália, sob o signo de escorpião”. O catatau de Zé Celso tem mais de meia página. Merece ser lido na íntegra, mas como o espaço é exiguo e como também não quero tirar a paciência de meus dois ou três leitores, reproduzo alguns trechos:
“Acho, diferentemente de Caetano, que temos em Lula o primeiro presidente antropófago brazyleiro, aliás, Lula é nascido em Caetés, nas regiões onde foi devorado por índios analfabetos o Bispo Sardinha que, segundo o poeta maior da Tropicália, Oswald de Andrade, é a gênese da história do Brazil. Não é o quadro de Pedro Américo com a 1ª Missa como a imagem fundadora de nossa nação, mas a da devoração que ninguém ainda conseguiu pintar. (…)
“Lula tem phala e sabedoria carnavalesca nas artérias, tem dado entrevistas maravilhosas, onde inverte, carnavaliza totalmente o sendo comum do rebanho. Por exemplo, quando convoca os jornalistas da Folha de S. Paulo a desobedecer seus editores e ouvir, transmitindo ao vivo a phala do povo. A interpretação da editoria é a do jornal e não a da liberdade do jornalista. Aí, quando liberta o jornalista da submissão ao dono do jornal, é acusado de ser contra a liberdade de expressão. (…)
“Essa sabedoria filosófica reflete-se na revolução cultural internacional que Lula criou com Celso Amorim [Ministro das Relações Exteriores] e Gil [Gilberto Gil, ex-ministro da Cultura] para a política internacional. O Brasil inaugurou uma política de solidariedade internacional. Não aceita a lógica da vendetta, da ameaça, da retaliação. Porpõe o diálogo com todos os diabos, santos, mortais, tendo certa ojeriza pelos filisteus como ele mesmo diz. Adoro ouvir Lula falar, principalmente em direto com o público, como num teatro grego. Mais que alfabetizado na batucada da vida, Lula é um interprete dela: a vida, o que é muito mais importante que o letrismo. Quantos eruditos analfabetos não sabem ler os fenômenos da escrita viva do mundo diante de seus olhos? (…)
“A própria pessoa de Lula é culta, apesar de não gostar, ainda, de ler. Acho que quando tirar férias da Presidência vai dedicar-se a estudar e aprender mais do que já sabe em muitas línguas. (…) Lula é um escândalo permanente para a mente moralista do rebanho. (…) Lula faz política culta e com arte. Sabe que a cultura de sobrevivência do povo brasileiro não é super, é infra estrutura.”

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