quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Benedetti de novo


Esqueci de dizer que Mario Benedetti faleceu em maio de 2009. Uma grande perda para a literatura mundial. Quem quiser conhecê-lo melhor, no Brasil a Alfaguarra – selo da Editora Objetiva – tem três obras editadas: Correio do Tempo; Primavera num Espelho Mágico e A Trégua. A gaúcha LP&M também editou A Trégua e Gracias por El Cigarro – ambas as obras em formato de livro de bolso. Eu particularmente não gosto muito das edições de bolso da LP&M, pois as acho desleixadas. Tenho um livro do Eduardo Galeano (por coincidência outro uruguaio), Futebol ao Sol e à Sombra, lotado de erros (a maioria de composição gráfica, imperdoável).

Benedetti


Aos meus dois ou três leitores devo satisfações. Praticamente abandonei o blog nas últimas semanas. Janeiro não tem sido muito fácil aqui no trampo. Em casa, cansado, tenho tido pouca inspiração – ou transpiração, porque o ato de escrever exige 10% de inspiração e o restante de transpiração. Bem, mas deixemos de delongas.
O Brasil, talvez por não falar o espanhol, língua predominante no Continente, conhece muito pouco a cultura de nossos vizinhos. Na música, por exemplo, conhecemos Mercedes Sosa, Fito Paes... Na literatura, então, só mesmo os iniciados. Algumas exceções, porque premiados na Europa, são Gabriel Garcia Marquez, Vargas Llosa, Isabel Allende, Pablo Neruda.
Hoje de manhã ouvi Jorge Drexler, cantor e compositor uruguaio, que ficou famoso por ganhar o Oscar com a música tema do filme Diários de Motocicleta, de Walter Salles. A canção me remeteu a outro uruguaio talentoso, o escritor, poeta e ensaísta Mario Benedetti, autor de mais de 80 livros – só conheço uma de suas obras, a novela A Trégua, que vale a pena ser lida. Por isto resolvi presenteá-los com um poema dele:

A ponte

Para cruzá-la ou não cruzá-la
eis a ponte
na outra margem alguém me espera
com um pêssego e um país
trago comigo oferendas desusadas
entre elas um guarda-chuva de umbigo de madeira
um livro com os pânicos em branco
e um violão que não sei abraçar
venho com as faces da insônia
os lenços do mar e das pazes
os tímidos cartazes da dor
as liturgias do beijo e da sombra
nunca trouxe tanta coisa
nunca vim com tão pouco
eis a ponte
para cruzá-la ou não cruzá-la
e eu vou cruzar
sem prevenções
na outra margem alguém me espera
com um pêssego e um país

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Tirando o Brasil da gaveta


Andy Warhol, o famoso artista plástico norte-americano, disse na década de 1960 que “um dia todos terão direito a 15 minutos de fama”. Warhol tinha razão. Não só a fama passou a ser efêmera, mas as informações também. Aliás, as notícias transformaram em show. Há pouco mais de dez anos Sílvio Santos trouxe para o Brasil a fórmula de programas que faziam sucesso nos Estados Unidos e na Europa: o reality show. Depois a Globo emplacou o Big Brother Brasil (inspirado no Grande Irmão do livro 1984, de Geoge Orwell, mas esta é uma outra história).
Fiz tal preâmbulo para dizer que nem tudo está perdido. Na segunda-feira estava em casa à noite e ligamos a TV. No momento exato começava a musiquinha chata anunciando o início do BBB, que dá a alguns anônimos 15 minutos de fama. Não aguento ver o Grande Irmão. Como não tenho assinatura de canal pago, sobra-me tentar ver alguma coisa em canal aberto. Nossa sorte é que existe a TV Cultura. Começava naquele momento o programa Rumos da Música, que apresentava o grupo Cia Sons do Cerrado. Um deleite para os ouvidos. Como seu curioso, decidi pesquisar: que som é esse? O grupo nasceu a partir da implantação, no ano 2000, do Centro de Folclore e História Cultural – Projeto Sons do Cerrado –, ligado ao Instituto do Trópico Subúmido e à Universidade Católica de Goiás.
O principal objetivo do Projeto Sons do Cerrado é o de produzir e reproduzir material fonográfico com as diferentes manifestações musicais da região do cerrado na forma de registro, releituras e adaptações de repertório pertencente ao domínio público ou de compositores regionais. O Sistema Biogeográfico do Cerrado ocupa os chapadões centrais da América do Sul e abrange os Estados de Goiás, Tocantins, Mato Grosso do Sul, Distrito Federal, leste de Mato Grosso, sul do Piauí, sul do Maranhão, parte de Minas Gerais e oeste da Bahia.
O Projeto Sons do Cerrado já lançou treze Cds com grupo de Folia de Reis, folclóricos, com a Camerata Santa Cecília e Cia Sons do Cerrado.
O Brazil realmente não conhece o Brasil. É preciso, como diz Rolando Boldrin, tirar o Brasil da gaveta. São projetos deste tipo que corroboram para que o País não se perca na mediocridade que só busca a fama efêmera, o vale-tudo!

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Modernistas


Oswald

Cabral

Ontem, segunda-feira, 11, completou-se 120 anos do nascimento de José Oswald de Souza Andrade. O paulistano Oswald de Andrade é um dos mais significativos autores modernistas da literatura brasileira. Participou da Semana de Arte Moderna, editou o jornal “O Homem do Povo”, ao lado de Pagu, ajudou a fundar “O Pirralho” e a “Revista Antropofágica”. Oswald faleceu em 1954. Deixou uma extensa obra literária – poesias, romances, teatro. Abaixo, o poema Brasil:

Brasil

O Zé Pereira chegou de caravela
E preguntou pro guarani da mata virgem
— Sois cristão?
— Não. Sou bravo, sou forte, sou filho da Morte
Teterê Tetê Quizá Quizá Quecê!
Lá longe a onça resmungava Uu! ua! uu!
O negro zonzo saído da fornalha
Tomou a palavra e respondeu
— Sim pela graça de Deus
Canhém Babá Canhém Babá Cum Cum!
E fizeram o Carnaval

Outro modernista – este da segunda fase – também faria aniversário no sábado, 9: o pernambucano João Cabral de Melo Neto. Nascido em 1920, em Recife, era primo – pelo lado paterno – de Manuel Bandeira e, pelo lado materno, de Gilberto Freyre. João Cabral fez carreira diplomática – ingressou por concurso no Itamaraty em 1945 – e colecionou prêmios literários. Um dos seus poemas que mais admiro é Tecendo a manhã, que reproduzo:

Tecendo a manhã
Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Rock in Rio: 25 anos


Uma matéria assinada pelo crítico Jotabê Medeiros e publicada pelo portal do Estadão, fez-me lembrar que o primeiro grande festival de rock internacional acontecido por estas plagas, o Rock in Rio, completou 25 anos. Aconteceu entre os dias 11 e 20 de janeiro de 1985. Não fui até lá, embora tivesse ficado deveras atentado. Havia conseguido um novo emprego e não poderia “enforcar”, mesmo porque dependia do salário para pagar a faculdade. Meu irmão e seus amigos – todos roqueiros até o último fio de cabelo – viveram a aventura. Foram para o Rio de Janeiro de ônibus e acamparam nas proximidades do evento. Queriam ver de perto Whitesnake, o Iron Maiden, o Ozzy... De perto... “De perto não deu, mas ouvimos o som. Todos atolados até o joelho na lama. Estava uma loucura”. Foi mais ou menos isso que deve ter me dito na época. Para um moleque de 19 anos poder ver seus ídolos num mega-show não tem preço que pague o entusiasmo.
Lembro-me que minha mãe quase enlouqueceu quando o mano voltou do Rio. Sua mochila trazia calças jeans, meias e outras peças que estavam puro barro.
Como disse o Jotabê, a primeira versão do Rock in Rio foi o nosso Woodstock. Depois aconteceram mais duas edições no Brasil – 1991 e 2001 –, três em Portugal e um na Espanha. Com certeza sem o mesmo espirito roqueiro e de liberdade do primeiro.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Erundina, livre da dívida

Dia 16 de dezembro postei uma nota falando da condenação da deputada federal Luiza Erundina, ex-prefeita de São Paulo, a devolver aos cofres públicos pouco mais de R$ 350 mil. Erundina foi condenada em ação popular movida em 1989. De acordo com informações da Rede Brasil Atual, na ocasião o cidadão Angelo Gamez Nunez sentiu-se atacado pela publicação de um comunicado na primeira página da Folha de S. Paulo no qual a administração municipal defendeu a greve geral de trabalhadores brasileiros. Criticada por parte da sociedade e pela imprensa pelo apoio ao movimento, Erundina decidiu publicar o informe no qual apresentava suas razões para dar suporte à paralisação e evitar que ônibus saíssem às ruas da cidade em 16 de março daquele ano. A ação, depois de inúmeros recursos, chegou ao fim com a condenação da ex-prefeita, obrigada a devolver aos cofres públicos o valor estimado pelo espaço correspondente no jornal.
A conta bancária aberta como fundo de arrecadação está em processo de fechamento, mas já recebeu um pouco mais que os R$ 352 mil necessários para solucionar a questão. De acordo com a parlamentar, o excedente será doado a instituições de caridade. As doações tiveram origens as mais diversas e vão de R$ 2 a 20 mil.
Em entrevista à Rede Brasil Atual, a deputada se disse emocionada: “É realmente algo que não só comove, mas impressiona e nos põe em reflexão para descobrir o significado de tudo isto. Porque é mais do que um gesto de solidariedade material a uma pessoa, há todo um significado político.”

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Erasmo no Céu, Inferno


A calmaria na porta do céu foi quebrada na segunda-feira. O cramunhão em pessoa foi falar com São Pedro. Estava interessado pessoalmente num hospede que chegaria a pouco, coronel linha dura do Exército Brasileiro, que adorava espancar especialmente estudantes durante a ditadura militar.
– Desculpe-me chegar assim, sem aviso. Quero, antes que o santo tome qualquer providência, convidar um hóspede que está a chegar por aqui para viver comigo lá no Inferno. É que preparei-lhe uma grande recepção e, além do mais, mandei reservar-lhe um aposento digno de um príncipe.
São Pedro coçou a cabeça, depois as longas barbas. Pensativo, com o dedão do pé desenhou um círculo nas nuvens. Depois de alguns segundos – que pareceram uma eternidade – acabou concordando:
– Se é assim, permito-lhe que faça-lhe o convite primeiro...
O diabo recebeu Erasmo, o tal coronel, de braços abertos, com um entusiasmo dedicado a poucos – excitação maior o cafuçu só teve com outro brasileiro, o delegado Sérgio Paranhos Fleury.
De braços dados, desceram ao Inferno. No meio da festa que o belzebu havia preparado, o coronel Erasmo lembrou-se de ter esquecido as malas na porta do Céu.
– Sem Nome, desculpe-me incomodá-lo, é que terei de voltar até São Pedro, esqueci minha bagagem lá.
– Que bobagem, meu filho, dois dos meus serviçais pegarão a bagagem. Não se preocupe.
Os dois diabinhos tomaram o rumo do Céu. Quando chegaram ao Grande Portal das Trevas – a porta do Inferno – descobriram que haviam esquecido as chaves. Para não perder a viagem resolveram pular o portão. Neste momento, dois anjinhos conversavam despretensiosamente numa nuvem na fronteira entre o Céu e o Inferno. Vendo os diabinhos escalando o portão, um deles comentou:
– Olha lá, irmãozinho, faz dez minutos que o coronel Erasmo chegou ao Inferno e a repressão baixou braba. Tem até diabo fugindo para o exílio.

Pau pra toda obra


Sem comentários!

HQ em debate

Quem ama quadrinhos não pode perder. No próximo dia 16 de janeiro acontecerá na Biblioteca Pública Viriato Corrêa (rua Sena Madureira, 298 – Vila Mariana – São Paulo) a primeira edição do HQ em Pauta – Encontro de Profissionais e Leitores de Histórias em Quadrinhos. O evento – marcado para acontecer entre as 11 e as 19 horas – contará com a exibição de documentário, palestra e uma mesa-redonda. O HQ em Pauta marca também o lançamento do segundo volume da coleção História do Brasil em Quadrinhos, da Editora Europa, e que traz como tema a Proclamação da República. Os autores da obra – o roteirista Edson Rossatto e os artistas Laudo Ferreira Jr. e Omar Viñole – encerram a programação com um bate-papo com os leitores seguido de sessão de autógrafos.
Outros importantes profissionais dos quadrinhos, como o desenhista Spacca, o jornalista Paulo Ramos e o editor Franco de Rosa, participarão dos debates.
Durante o evento será lançada a exposição História do Brasil em Quadrinhos: Proclamação da República - Bastidores e curiosidades históricas, que poderá ser visitada até 28 de fevereiro na Biblioteca Viriato Corrêa. Em tempo: a entrada é no “Vasco”.
Acompanhe a programação completa:
11 horas: Exibição do documentário Dom João Carioca, produzido pelo canal Futura.
12h30: Horário de almoço.
13h30: Abertura da exposição História do Brasil em Quadrinhos: Proclamação da República - Bastidores e curiosidades históricas.
14 horas: Palestra: Conteúdos históricos e adaptações de obras literárias para HQ ao longo do tempo, com o editor Franco de Rosa.
15 horas: Mesa-redonda: Conteúdo histórico e literário: a nova identidade da HQ nacional?, com o desenhista Spacca e o jornalista Paulo Ramos, sob mediação do jornalista Jota Silvestre.
16h30: Bate-papo: Os bastidores da HQ "História do Brasil em Quadrinhos: Proclamação da República, com o roteirista Edson Rossatto, o desenhista Laudo e o colorista Omar Viñole.
18 horas: Sessão de autógrafos.