quinta-feira, 26 de agosto de 2010
96 anos de glórias
Aos meus quatro ou cinco leitores. Há tempos que não apareço por estas plagas cibernéticas. Primeiro, está faltando tempo (em tempos modernos, o que menos temos é tempo; praga do século XXI), e depois, tive problemas com esta merda de computador (ou seria analfabetismo informático?). Bem, vamos aos fatos. O glorioso Palmeiras completa no dia de hoje 96 anos de existência. Pensei em escrever uma crônica para homenagear meu time de coração. Faltou-me inspiração -- e tempo, ele de novo!. Assim, passeando pelo cipoal internético, deparei-me com a coluna do Roberto Torero, que publicou uma crônica de Marcio R. Castro. Não pedi licença nem pra um nem pra outro para publicá-lo (como não sou um ladrão cibernético, diria que emprestei o belo texto para editá-lo neste espaço). Diviram-se
Só de coisa importante
Por Marcio R. Castro
Seu Vittorino Gennaro completa hoje 96 invernos. Se bem que, mesmo em agosto, ainda inverno portanto, seria mais justo falarmos em
primaveras.
Primeiro porque inverno passa a impressão de fim da linha, o que definitivamente não é o caso do vecchio signore. Ele é daqueles que nos
causam admiração aos 30, inveja aos 50 e uma certa raiva depois dos 60.
Depois, porque primavera é a estação em que o verde fica mais verde. Argumento que basta, nada é mais verde que o coração do Seu Vittorino.
Palestrino de nascimento, parmerista desde sempre e palmeirense até a morte, se ela um dia vier.
De uns tempos para cá, vez ou outra a memória do patriarca resolvia falhar. Nada de muito grave, não se alarme. Esquecer onde estavam as
chaves era o que acontecia de mais preocupante. Vittorino dizia que sua memória estava ótima, ele só não tinha mais paciência para lembrar de
qualquer banalidade, só de coisa importante.
Mesmo assim, nonno Vitto percebeu que essas pequenas mancadas de sua memória haviam deixado seus familiares preocupados. No último
domingo, ao chegar à cozinha, se deparou com seus dois bisnetos adolescentes, que conversavam sobre futebol em meio a mordidas em
sanduíches de mortadela. Meio sem quê nem porquê, Dom Vittorino disparou:
- Fred, Júlio, nostro Palmeiras joga hoje pelo Rio-São Paulo?
Os dois se olharam ressabiados. Será que nonno Vitto começava a esquecer até as coisas do Palestra? Logo ele???
- Não, nonno, o Rio-São Paulo não é mais jogado. O Verdão é o maior vencedor do torneio, com cinco taças. E nossos títulos são todos inteiros,
nenhuma conquista dividida, nem inacabada, lembra?
- Ah, é vero, ando meio esquecido, jogamos agora no Brasileirone... A propósito, e campeone brasileiro, nós já fomos?
- Como assim, nonno?! O Palmeiras é o maior de todos, temos oito títulos. São duas Taças Brasil, dois Roberto Gomes Pedrosa e quatro
Brasileirões. Sem contar que também somos o clube com mais taças nacionais. Com a Copa do Brasil e a Copa dos Campeões, somamos dez
conquistas! Só a gente ganhou tanto. O senhor esqueceu?
- Dio santo, é vero! Agora me recordo, o Verdone também é o único clube a vencer todas as competiciones nacionais já disputadas, não é?
Com a piscada do nonno, a farsa acabava. Os garotos ficaram aliviados, sorriram com a pegadinha do bisavô, mas resolveram continuar a gincana
alviverde.
O primeiro título mundial do futebol brasileiro? Palmeiras, sete anos antes da Seleção. Na final da Copa Rio, mais de 100 mil pessoas no
Maracanã. Pobre Juventus de Turim...
Falamos de Seleção? Qual o único clube que representou o Brasil por inteiro, do goleiro ao ponta-esquerda, do técnico ao último reserva?
Palmeiras, 1965, inauguração do Mineirão. Os uruguaios tomaram de três.
Momentos críticos também vieram à baila, sem ressalvas. A fila de 16 anos? Acabou em grande estilo, 4 a 0 no arquirrival. E quando eles estavam
nos 20 anos de fila, nós os deixamos na espera por mais três.
O rebaixamento? Até quando cai, um gigante fica de pé. Fomos e voltamos campeões, sem tapetão, sem regulamentos estranhos, sem
pataquada. Com o Palmeiras, o futebol brasileiro finalmente se moralizou, pelo menos nessa questão: nunca mais houve viradas de mesa.
E a inusitada conversa foi se estendendo. As Academias, o jogo de estreia do Pacaembu, a Libertadores, o supercampeonato de 59, a arrancada
heróica de 42, a Copa Mercosul, o Palestra de São Paulo, a surra de seis em cima do Boca, os 24 títulos estaduais (sim, tem os dois Campeonatos
Paulistas Extras), a sova de oito pra cima do Corinthians (coitados!), os três troféus Ramon de Carranza (dois deles vencidos em cima de um tal
de Real Madrid), o "morreu líder, nasceu campeão", a Arena Palestra, a campanha dos mais de cem gols em 96, o tri da década de 30, o "dá-lhe
porco!", o campeão do século XX... Se tantas glórias e tradições mal cabem nesse planeta, imagine naquela cozinha!
Hoje, ao receber os parabéns, Vittorino tentou disfarçar a surpresa, mas não conseguiu.
- Tinha se esquecido do próprio aniversário, nonno?!!
- Hoje joga o Palestra, cazzo! Só me lembro de coisa importante!
Marcio R. Castro é, obviamente, palmeirense.
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