sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Visita do governador


Adhemar, quando governador de São Paulo, na década de 40.


As eleições estão perdendo a graça, não há clima de eleição nas cidades. Tudo é proibido. Os comícios, embora ainda aconteçam, já não são mais os mesmos. Aliás, o desinteresse pela política vem num crescendo desde a década de 1990. Para atrair o povão, os candidatos apelavam para mega-shows com estrelas da música popular. Depois que se proibiu os shows, o povão não tem mais participado em massa. Grande parte do público dos atuais comícios é formado pela militância dos partidos e, o que é pior, pelos cabos eleitorais “pagos” para segurar bandeiras de candidatos.
Os palanques hoje são eletrônicos – televisão, rádio, twitter, blogs etc.
Houve uma época em que os comícios agitavam os bairros das grandes cidades e especialmente as do interior. Os comícios eram eventos concorridos. E como bem lembrou o jornalista Mouzar Benedito numa deliciosa crônica publicada no sítio Via Política, comício de prestígio tinha que ter pelo menos um bêbado. A crônica ativou meus neurônios e lembrei-me de uma história que meu pai contava sobre Adhemar de Barros, um político de prestígio nas décadas de 40 e 50 em São Paulo, mas um tanto polêmico e até folclórico - teria sido o primeiro político a ser "defendido" pela frase "rouba mas faz". Aos fatos:
Então governador do Estado, Adhemar de Barros, que tinha fama de beberrão, foi a Gália – cidade natal de minha família – inaugurar uma ponte que a prefeitura construíra com verbas repassadas pelo Estado. O então prefeito, um tal Custódio, era aliado do governador.
O avião do governador desceu num pasto de uma fazenda vizinha à ponte. O carro do prefeito foi buscá-lo, arrastando atrás um sem número de moleques em algazarra. Já na entrada da ponte, pouco antes de cortar a fita de inauguração, Adhemar olhou bem para a construção, tirou o chapéu e interpelou o prefeito:
– Custódio, eu mando dinheiro pra fazer uma ponte e você constrói uma pinguela?
A ponte era de madeira, mas o projeto previa que fosse de concreto. Ainda sem graça, Custódio convidou o governador a entrar em seu automóvel e ser o primeiro a atravessar a nova construção para dirigirem-se ao centro da cidade, onde o povaréu os aguardava para um comício.
Já enfastiado, iniciou assim o seu discurso: “Povo de Garça...” Percebendo a gafe, um assessor tentou corrigir o mandatário-mor soprando-lhe ao pé de ouvido: “Governador, é povo de Gália”. Irritado e esquecendo-se que estava com o microfone em mãos, disparou: “Gália, Garça, é tudo a mesma merda”...

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