quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Mário Quintana


Alguns poemas de Mário Quintana para deixar a quinta-feira mais leve:

Gestos
A mão que parte o pão
a mão que semeia
a mão que o recebe
- como seria belo tudo isso se não fossem os intermediários!


Dos mundos

Deus criou este mundo. O homem, todavia,
Entrou a desconfiar, cogitabundo...
Decerto não gostou lá muito do que via...
E foi logo inventando o outro mundo.

O auto-retrato

No retrato que me faço
– traço a traço –
às vezes me pinto nuvem,
às vezes me pinto árvore...

às vezes me pinto coisas
de que nem há mais lembrança...
ou coisas que não existem
mas que um dia existirão...

e, desta lida, em que busco
– pouco a pouco –
minha eterna semelhança,

no final, que restará?
Um desenho de criança...
Corrigido por um louco!

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

30 anos de anistia


“(...) E nuvens, lá no mata-borrão do céu
chupavam manchas torturadas
que sufoco
Louco, o bêbado com chapéu-coco
fazia irreverências mil
pra noite do Brasil, meu Brasil
Que sonha com a volta do irmão do Henfil
Com tanta gente que partiu
num rabo de foguete
Chora a nossa pátria, mãe gentil
choram Marias e Clarices
No solo do Brasil”

(O Bêbado e a Equilibrista, João Bosco e Aldir Blanc)

Na próxima sexta-feira, 28, comemora-se os 30 anos de promulgação da Lei da Anistia Política. Três décadas depois da volta dos exilados, discute-se que a lei – ampla, geral e irrestrita – deixou a desejar, principalmente no que tange à culpabilidade aos torturadores, aos excessos, aos crimes contra a humanidade e contra os direitos humanos praticados durante a ditadura militar.
Em artigo para a revista da Adusp (Associação dos Docentes da USP), o jornalista Ivan Seixas cobra a punição dos torturadores. “Punir torturadores não é um mero detalhe, mas parte fundamental do processo humanitário e de construção da democracia.” Com Ivan concorda o professor Oswaldo Munteal Filho, da PUC-RJ. Em entrevista ao “Jornal do Brasil”, Munteal defende que, para que a Lei da Anistia seja considerada de fato eficaz e válida, “é urgente a abertura dos registros do Itamaraty, do Arquivo Nacional, dos arquivos públicos estaduais, dos arquivos 'ainda blindados' da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). O professor considera fundamental que o Ministério Público investigue aqueles que cometeram crimes contra os cidadãos brasileiros que lutavam por seus ideais.
Ivan Seixas foi preso pela Operação Bandeirantes, em São Paulo, em abril de 1971, aos 16 anos de idade, junto com seu pai, o metalúrgico Joaquim Seixas, militante do Movimento Revolucionário Tiradentes (MRT). Os dois foram torturados na Oban. Seu pai faleceu na tortura. Com a ajuda da “Folha da Tarde” (do Grupo Folha) – o jornal com maior “tiragem” da década de 1970 –, a polícia montou uma farsa, inventando que Joaquim Seixas falecera em confronto.
Não sou sociólogo, filósofo ou coisa que o valha. Arrisco, contudo, uma análise: o brasileiro – com seu jeitinho, herança portuguesa – é um povo que evita o conflito e que perdoa muito fácil. O que passou, passou. É uma maneira de se cicatrizar feridas.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

São Paulo sem saúde

Os governos tucanos funcionam assim: desviam o foco da opinião pública para uma questão menor – e contam com as benesses dos meios de comunicação para espalhar o fato – enquanto engatilham o revólver para atingir o cidadão pelas costas. A aprovação da lei antifumo ganhou manchetes dos principais jornais do Estado; teve um bom tempo nos principais noticiários dos jornalísticos de alcance nacional das emissoras de TV. Enquanto isto, o governador José Serra enviou para a Assembleia Legislativa o Projeto de Lei Complementar 62/08, que privatiza a rede de saúde pública, transferindo a administração dos hospitais e unidades para entidades privadas, chamadas de organizações sociais de saúde (OSS). Um parecer da deputado Maria Lúcia Amary (PSDB), uma das relatoras do PLC 62, propõe uma emenda abrindo as unidades de saúde para atendimento de pacientes da rede particular e/ou usuários de planos de saúdes privados! Ou seja, quem puder pagar...
Na prática, o PLC significa o fim da saúde pública no Estado de São Paulo. No Brasil o SUS garante atendimento universal e integral. Mas a sanha dos tucanos para implantar a todo custo a política neo-liberal transformará a saúde pública em negócio, se o PLC for aprovado.
O negócio funciona assim: você paga imposto e o dinheiro repassado para a saúde acaba no bolso destas OSS.
Nos Estados Unidos a coisa é parecida. Lá a saúde é privada. Cerca de 46 milhões de norte-americanos não têm atendimento de saúde. Se o cidadão perde o emprego, perde também o plano de saúde. Aí só recorrendo aos céus!
Para os tucanos, a rede de proteção social é gasto para o Estado. Aqueles que não podem recorrer a hospitais privados, que se danem!

Freiras feias

Sobre a lei antifumo, recomento a leitura de um artigo de Luiz Felipe Pondé, publicado no caderno “Ilustrada” da “Folha de S. Paulo” de segunda-feira. Ele entra fundo na discussão sobre a lei. Até agora tudo o que li a respeito fica na superficialidade, no contra ou a favor. Diz Pondé, em certo trecho de sua reflexão: “O fascismo é, no fundo, uma religião civil e não um tipo específico de política ou de governo. Manifesta-se como um governo cuja autoimagem é a de um agente moral na sociedade. Agente este movido pela fé em gerar melhores cidadãos, por meio do constrangimento legal e científico de comportamentos (…) Na democracia, o fascismo ainda é mais perigoso porque tende a ser invisível. Esta invisibilidade nasce da ilusão de que a legitimidade pelo voto inviabiliza o motor purificador do fascismo. Pelo contrário, a própria ideia de 'maioria' ou de 'vontade do povo' trai a vocação fascista. (…) O fator saúde, seja pessoal, seja do planeta, seja da sociedade, sempre foi uma paixão fascista – e isto já é largamente conhecido.”

Rodada verde


Finalmente o Palestra teve uma rodada favorável no Brasileirão. Sábado, na estréia do terceiro uniforme (aliás, belíssimo), fez a lição de casa: bateu o Inter-RS por 2 a 1. Destaque para a atuação de Diego Souza, que sofreu pênalti convertido por Obina; o segundo do Verdão nasceu dos pés de Ortigoza, enquanto Giuliano descontou para o Colorado gaúcho.
O melhor da rodada foi a vitória do Furacão paranaense sobre o São Paulo, com direito a um golaço do veterano Paulo Baier. O Santos mais uma vez decepcionou. Perdeu de 2 a 1 para o Goiás.
A partida entre Botafogo e Corinthans – um belo 3 a 3 – infelizmente foi marcada pela desastrosa atuação do árbitro Arilson Bispo: deu pênalti que não foi, deixou de marcar o que foi, não viu gol de mão e ainda fez lambança no segundo gol de Dentinho (foto). Um desastre.
Outros resultados dos paulistas no Brasileirão: Santo André 1, Coritiba 0 e Fluminense 0, Barueri 0. O empate custou ao Fluminense a lanterninha. Aliás, os times do Rio de Janeiro estão uma draga. O Botafogo é o anti-penúltimo colocado; o Flamengo, o 14º, não muito longe da zona de rebaixamento.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

20 anos sem Raul


Há exatos 20 anos morria o roqueiro baiano Raul Seixas, que no início de carreira fez parceria com Paulo Coelho. Na época de sua morte, Raul não fazia muito sucesso e estava meio esquecido. Fora resgatado por outro roqueiro baiano, Marcelo Nova. Até por isto, talvez, Raul fez mais sucesso depois de sua morte.
Para os fãs do cantor, uma série de homenagens estão programadas para este final de semana: lançamento do livro Metamorfose ambulante, exposição, peça teatral e até uma passeata programada para hoje, do Teatro Municipal até a Catedral da Sé. Acompanhe a programação:

Sábado, 22, às 13 horas: lançamento do livro Metamorfose ambulante – de Mário Lucena, Laura Kohan e Igor Zinza – na Galeria do Rock
Até o dia 23 de agosto, no Teatro Commune (Rua da Consolação, 1.218, tel. 3476-0792), o ator pernambucano Samuel Luna encena a peça À espera do trem das 7. Ingressos a R$ 30,00
Até o dia 27 de setembro você pode ver a exposição O prisioneiro do rock, ensaio fotográfico feito por Ivan Cardoso no Museu Afro Brasil (Parque do Ibirapuera, tel.  5579-0593). Grátis.
Domingo, 23, às 16 horas acontecerá o show Toca Raul!, no Sesc Santo André (rua Tamarutaca, 302, tel. 4469-1200). Grátis.

Volta Jorginho


Depois de mais um tropeço do Palmeiras no Brasileirão resolvi iniciar uma campanha pela volta do Jorginho como técnico principal da equipe. Depois que o Morumbi Ramalho (ops, Murucy) assumiu o comando da equipe, o time descambou. A última vitória do Palmeiras aconteceu no dia 1º de agosto, 1 a 0 no Sport Recife, na Ilha do Retiro. De lá pra cá, disputou doze pontos e conquistou apenas quatro. Foram três empates em 1 a 1 com Grêmio, Atlético e Botafogo, e a derrota para o Coritiba na quarta-feira. Dos 45 pontos disputados até a véspera do jogo com o Sport, o Palmeiras conquistara 31, ou seja, 69% de aproveitamento; se mantivesse a média nos quatro últimos jogos, o Palestra estava na liderança folgada, com 42 pontos – seis à frente do SPFC.
Volta, Jorginho, volta!

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Guerra das TVs: lavando a roupa suja


Acompanhei pela imprensa as acusações do Ministério Público de São Paulo contra o bispo Edir Macedo e mais nove integrantes da Igreja Universal do Reino de Deus de usar o dinheiro de doações de fiéis para engordar o próprio bolso.
Há tempos a Rede Globo, controlada pela família Marinho, e a Record, pelo bispo Edir Macedo, veem trocando farpas. Mas a partir das denúncias as emissoras iniciaram uma guerra – e nada santa!
Globo e Record estão expondo os ossos uma da outra, pelo menos é o que me dizem alguns amigos.
Na década de 1990 – mais precisamente em 1993 – o canal 4 da BBC, a poderosa emissora estatal inglesa, produziu o documentário “Brasil: muito além do Cidadão Kane”, dirigido por Simon Hartog. O documentário mostra que o domínio crescente da TV Globo na imprensa brasileira envolvera contratos ilegais com empresas estrangeiras, um apoio incondicional aos governos ditatoriais no Brasil e tudo o que estiver a seu alcance para garantir seus interesses — o que inclui até a manipulação de debates políticos para eleger o governo, como ocorreu no caso Collor de Mello. Mais do que isso, o filme explica como funciona a política brasileira de comunicações e os critérios arbitrários pelos quais se concedem e renovam as concessões de canais de televisão e rádio.
Por razões óbvias, a Rede Globo conseguiu na Justiça vetar a exibição do documentário no País. Assisti ao filme na época numa sessão clandestina promovida por um sindicato (não me recordo qual). O grande problema é que o documentário não tem tradução e nem legenda. Graças a Internet, hoje é possível assistir ou mesmo baixar o vídeo – ele pode ser encontrado no You Tube.
O dono da Igreja Universal do Reino de Deus é o maior proprietário de concessões de televisão no Brasil. Ele possui 23 emissoras de TV, mais de 40 emissoras de rádio – algumas registradas em nome de pastores de sua confiança.
Pela democratização
dos meios de comunicação

A guerra das emissoras põe a nu uma delicada e urgente questão: a concessão de emissoras de rádio e televisão no Brasil. E mostram a urgência da democratização dos meios de comunicação, que não podem ficar em mãos de inescrupulosas, sem qualquer regra legal.