quinta-feira, 17 de setembro de 2009

De novo, as cotas

Recentemente, o geógrafo e professor da USP Demétrio Magnoli lançou o livro Uma gota de sangue – História do pensamento racial. Não li o dito cujo, por isso recorri a uma matéria do caderno Aliás, do jornal “O Estrado de São Paulo”. De acordo com a matéria, o compêndio de Magnoli é “um libelo contra o que o autor chama de mito das raças”. O próprio autor se explica: “Raças não existem. O que existe é o mito da raça, uma invenção recente, nascida há 150 anos junto com a expansão das potências européias na África e na Ásia e usada para conquistar poder político e econômico”. O jornalista Ali Kamel – todo poderoso da Rede Globo – percorre o mesmo caminho: em 2006 lançou o livro Não somos racistas, que recebeu elogios rasgados da revista “Veja”, a mais preconceituosa de nossas revistas semanais.
Os dois livros são sim libelos contra a política de cotas para negros e índios nas universidades brasileiras. Cansei de ouvir mesmices daqueles que se colocam contra as cotas baseados apenas no que viram e ouviram, na época, nas “reportagens” e opiniões de comentaristas da Globo.
A “Folha de S. Paulo” de hoje, 17, traz um artigo do professor José Jorge de Carvalho, da UnB (Universidade de Brasília). Reproduzo alguns trechos do artigo, que vão de encontro ao meu pensamento:

“Enquanto cresce o número de universidades que aprovam autonomamente as cotas, a reação a esse movimento de dimensão nacional pela inclusão de negros e indígenas vai se tornando cada vez mais ideológica (…).
“Um grupo de acadêmicos e jornalistas brancos, concentrados no eixo Rio-São Paulo, reage contra esse movimento apontado para cenários catastróficos, como se, por causa das cotas, as universidades brasileiras pudessem ser palco de genocídios como o do nazismo e o de Ruanda!
“Como não podem negar a necessidade de alguma politica de inclusão racial, passam a repetir tediosamente aquilo que todos sabem e do que ninguém discorda: não existem raças no sentido biológico do termo. (…) Começaram a negar a própria existência de racismo no Brasil.
Fugindo do debate substantivo, os anticotas optam pela desinformação e pela negacionismo: raça não existe, logo, não há negros no Brasil; se existem por causa das cotas, não há como identificá-los, logo, não pode haver cota”.

Um comentário:

  1. Olá, gente boa.

    Seguinte, se lerem atentamente o que Magnoli escreveu poderão perceber que não se trata de anticotas e coisas que tais.... Está ali um alerta contra um tipo de preconceito que lentamente vai surgindo no Brasil e que pode se agravar.

    Quem vai negar que negro e branco pobre sofrem do mesmo tipo de preconceito?

    Mas raças não existem. O que existe é racialismo alimentado por preconceitos sociais...

    abraços

    ResponderExcluir