quarta-feira, 30 de setembro de 2009
A crise hondurenha e o PIG
A primeira notícia que li sobre o golpe em Honduras foi no portal do jornal argentino “Pagina 12”. Os jornalões brasileiros – e os outros meios de comunicação, em geral – cobrem muito mal a América Latina. Deram a notícia depois, usando material de agências de notícia.
Os correspondentes brasileiros só foram enviados à capital daquele país, Tegucigalpa, depois de Manuel Zelaya, o presidente deposto pelo golpe, receber abrigo na Embaixada brasileira ao retornar ao país. Roberto Micheletti, o golpista, chegou a anunciar que invadiria a embaixada para prender Zelaya.
A “crise” virou um prato cheio para a aposição e, principalmente, para o pessoal do chamado Partido da Imprensa Golpista (PIG) – criação do jornalista Paulo Henrique Amorim para designar parte da imprensa que desde a posse de Lula no primeiro mandato não tem feito outra coisa a não ser tentar derrubá-lo da cadeira de presidente. “Casa da sogra”, atrapalhada, esculacho foram alguns adjetivos usados pela imprensa para anunciar o desastre da operação.
O pessoal do PIG, principalmente aqueles que exercem funções de comentaristas, beira às raias da fobia. Clovis Rossi é um deles. Na “Folha” de ontem chegou a afirmar que “se eu fosse do governo brasileiro, chamaria o capitão Nascimento (…) para dizer: 'pede para sair, Zelaya'. É a única solução para acabar com o esculacho na missão em Tegucigalpa”.
Na mesma edição e jornal, Eliana Catanhêde escreveu: “O Brasil perdeu totalmente as condições de exercer uma de suas especialidades na solução da crise em Honduras: a capacidade de liderança e mediação”. Carlos Heitor Cony emenda: “A condição de asilado que Zelaya desfruta na embaixada brasileira é prejudicada pela pregação do ex-presidente (…). A primeira obrigação de um asilado é manter um silêncio obsequioso”.
Um prega a violência para expulsar um presidente legitimamente eleito e deposto por um golpe da nossa embaixada; outra diz que o Brasil se equivocou e perdeu forças; um terceiro propõe censura ao abrigado.
O Brasil sai fortalecido?
Enquanto a imprensa tupiniquim malha o governo, o jornal espanhol “El País”, um dos mais influentes do mundo, publicou artigo de Jorge Heine, diplomata e ex-ministro de Estado chileno, elogiando o posicionamento do Brasil frente à crise hondurenha. Leia trecho:
“Uma crítica recorrente à política exterior brasileira durante os governos do presidente Lula tem sido o de ter prestado demasiada atenção aos temas globais (rodada de Doha e da OMC, reforma do Conselho de Segurança da ONU) e não o suficiente as realidades regionais. Agora o argumento se inverte, e se aventa que ao envolver-se numa questão regional como Honduras, o Brasil estaria prejudicando suas aspirações maiores. Isto não tem sentido. Uma potencia regional com aspirações globais que é incapaz de resolver crises em seu próprio entorno não é levado a sério no resto do mundo.
Ao assumir a crise de Honduras como uma prioridade, o Brasil não faz senão expressar o consenso latino-americano (e ibero-americano) na matéria. A noção de que isto prejudicaria o Brasil e seu papel global não tem fundamento. Se Brasília pretende com isto resolver as intrigas de Hondruas e com isto resolver um problema dos Estados Unidos, Washington estaria eternamente agradecido. Com isto, Brasília começaria a assumir um tipo de liderança regional que temos esperado há muito tempo.”
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Caro Brandino, todos os assuntos abordados foram muito bons, porém, aquele que mais apreciei foi sobre o José "Vampirus" Serra, muito sugestivo e oportuno no momento.
ResponderExcluirParabéns
Do amigo
Paulinho