quarta-feira, 30 de setembro de 2009

A crise hondurenha e o PIG


A primeira notícia que li sobre o golpe em Honduras foi no portal do jornal argentino “Pagina 12”. Os jornalões brasileiros – e os outros meios de comunicação, em geral – cobrem muito mal a América Latina. Deram a notícia depois, usando material de agências de notícia.
Os correspondentes brasileiros só foram enviados à capital daquele país, Tegucigalpa, depois de Manuel Zelaya, o presidente deposto pelo golpe, receber abrigo na Embaixada brasileira ao retornar ao país. Roberto Micheletti, o golpista, chegou a anunciar que invadiria a embaixada para prender Zelaya.
A “crise” virou um prato cheio para a aposição e, principalmente, para o pessoal do chamado Partido da Imprensa Golpista (PIG) – criação do jornalista Paulo Henrique Amorim para designar parte da imprensa que desde a posse de Lula no primeiro mandato não tem feito outra coisa a não ser tentar derrubá-lo da cadeira de presidente. “Casa da sogra”, atrapalhada, esculacho foram alguns adjetivos usados pela imprensa para anunciar o desastre da operação.
O pessoal do PIG, principalmente aqueles que exercem funções de comentaristas, beira às raias da fobia. Clovis Rossi é um deles. Na “Folha” de ontem chegou a afirmar que “se eu fosse do governo brasileiro, chamaria o capitão Nascimento (…) para dizer: 'pede para sair, Zelaya'. É a única solução para acabar com o esculacho na missão em Tegucigalpa”.
Na mesma edição e jornal, Eliana Catanhêde escreveu: “O Brasil perdeu totalmente as condições de exercer uma de suas especialidades na solução da crise em Honduras: a capacidade de liderança e mediação”. Carlos Heitor Cony emenda: “A condição de asilado que Zelaya desfruta na embaixada brasileira é prejudicada pela pregação do ex-presidente (…). A primeira obrigação de um asilado é manter um silêncio obsequioso”.
Um prega a violência para expulsar um presidente legitimamente eleito e deposto por um golpe da nossa embaixada; outra diz que o Brasil se equivocou e perdeu forças; um terceiro propõe censura ao abrigado.

O Brasil sai fortalecido?

Enquanto a imprensa tupiniquim malha o governo, o jornal espanhol “El País”, um dos mais influentes do mundo, publicou artigo de Jorge Heine, diplomata e ex-ministro de Estado chileno, elogiando o posicionamento do Brasil frente à crise hondurenha. Leia trecho:
“Uma crítica recorrente à política exterior brasileira durante os governos do presidente Lula tem sido o de ter prestado demasiada atenção aos temas globais (rodada de Doha e da OMC, reforma do Conselho de Segurança da ONU) e não o suficiente as realidades regionais. Agora o argumento se inverte, e se aventa que ao envolver-se numa questão regional como Honduras, o Brasil estaria prejudicando suas aspirações maiores. Isto não tem sentido. Uma potencia regional com aspirações globais que é incapaz de resolver crises em seu próprio entorno não é levado a sério no resto do mundo.
Ao assumir a crise de Honduras como uma prioridade, o Brasil não faz senão expressar o consenso latino-americano (e ibero-americano) na matéria. A noção de que isto prejudicaria o Brasil e seu papel global não tem fundamento. Se Brasília pretende com isto resolver as intrigas de Hondruas e com isto resolver um problema dos Estados Unidos, Washington estaria eternamente agradecido. Com isto, Brasília começaria a assumir um tipo de liderança regional que temos esperado há muito tempo.”

Atos secretos dos tucanos


Deu na “Isto É” desta semana: “Assembleia de São Paulo repete falta de transparência do Senado Federal e esconde 46 decisões para nomear funcionários e pagar viagens sem que ninguém saiba.”
O repórter Alan Rodrigues pesquisou edições do “Diário Oficial do Estado” entre fevereiro de 2003 e setembro de 2009 para levantar os 46 atos secretos do Legislativo paulista. “Na publicação, a numeração dos atos deve ser sequencial e a publicidade é determinada pelo artigo 37 da Constituição Federal, mas isto não acontece”, revela a reportagem.
De acordo com a publicação, em 2003, pouco antes de deixar a presidência da Assembleia Legislativa, o deputado Celino Cardoso (PSDB) aprovou 27 atos secretos. Sob o comando do deputado Sidney Beraldo (PSDB), atual secretário de Gestão Pública do governador José Serra, teriam sido aprovados outros dez atos secretos. À frente da Mesa Diretora, o deputado Vaz de Lima (PSDB) repetiu a prática de seus antecessores, com oito atos secretos.
Sidney Beraldo limitou-se a comentar: “Há atos internos que não somos obrigados a publicar, pois não envolvem despesas financeiras”. (Não é o que diz a Constituição.)
O atual presidente da Casa, Barros Munhoz, inicialmente negara a existência de atos secretos; depois assumiu que eles existem.
Pois bem, a notícia não foi repercutida pelos jornalões e nem pelas emissoras de TV. Em São Paulo o PSDB e o governador José Serra são blindados pela imprensa. Há na Assembleia Legislativa mais de 60 pedidos de CPI. Nenhum foi aprovado, isto porque o governo tem folgada maioria em sua base de sustentação, formada pelo PSDB, pelo DEMO e alguns partidos nanicos que flutuam em torno do poder.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

GEO encara Sertãozinho


A Federação Paulista de Futebol divulgou hoje as rodadas da segunda fase da Copa Paulista. O Grêmio Esportivo Osasco (GEO) estréia às 15 horas de sábado, 3 de outubro. Recebe no Estádio José Liberatti, o Liberatão, a forte equipe do Sertãozinho – a melhor campanha da primeira fase do campeonato. Na quarta-feira, 7, viaja até Piracicaba para enfrentar o XV no Barão de Serra Negra, às 20 horas. Depois, no dia 10, pega o Sorocaba, às 15 horas, no Walter Ribeiro, em Sorocaba.
Os jogos de volta iniciam-se no dia 17 de outubro, quando o GEO recebe em casa o Sorocaba, a partir das 15 horas; na quarta-feira seguinte, dia 21, encara o XV de Piracicaba, às 16 horas, no Liberattão. Na última partida desta fase encara, no dia 25, às 11 horas, o Sertãozinho, no Estádio Frederico Dalmazo. Avanti, GEO!

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Na liderança


Mesmo jogando mal, o Palmeiras bateu o Atlético-PR no sábado, 26, por 2 a 1, com gols de Figueroa e Danilo. No domingo, torci muito pelo empate entre o Corinthians e o São Paulo. Os deuses do futebol deram uma ajudinha. Fizeram o excelente zagueiro André Dias atrasar a bola na fogueira para o goleiro Bosco. O Gorducho Ronaldo – está visivelmente acima do peso, mas como dizem, mesmo gordo joga mais do que muitos por aí – aproveitou-se da lambança para escrever 1 a 0 no placar. Depois vieram as atrapalhadas do árbitro Ricardo Gomes Ribeiro, que anulou mal um gol de Dentinho e validou mal o gol de Washington, que estava em impedimento. Ou seja, partida maravilhosa.
Os resultados da rodada isolaram o Palmeiras na liderança, com 50 pontos, cinco a mais que o Goiás, que surpreendeu o Grêmio (2 a 1), e assumiu a vice-liderança. Os placares da rodada: Barueri 0, Cruzeiro 1; Coritiba 2, Náutico 0; Internacional 0, Flamengo 0; Fluminense 3, Avaí 2; Sport 2, Santo André 1; Atlético 3, Santos 1; Botafogo 1, Vitória 3.

Fazendo contas

Sei que ainda faltam doze rodadas pela frente e tudo pode acontecer. Num exercício de futurologia – levando-se em consideração as estatísticas até a última rodada – o Palmeiras tem, potencialmente, a chance de faturar 22 pontos nos doze jogos que ainda restam. Isto faria o time chegar ao 77 pontos. As mesmas estatísticas apontam que o potencial do Goiás é de conquistar 58 pontos; o São Paulo, poderia chegar 65 pontos. Fosse simples, assim, poderíamos entregar o troféu ao Palestra.
Como nem macumba e nem estatísticas ganham campeonato, o melhor é o Palmeiras pôr as barbas de molho e garantir, em campo, os pontos necessários para sagrar-se hexacampeão brasileiro!

GEO avança na Copa Paulista


Com gols de Wesley, aos 31 da etapa inicial, e Daniel, aos 6 do segundo tempo, o Grêmio Esportivo Osasco garantiu a vitória por 2 a 1 sobre o São Bernardo no sábado, 26, e garantiu a classificação para a segunda fase da Copa Paulista. A partida, disputada no Estádio Primeiro de Maio, em São Bernardo, teve transmissão ao vivo pela TV Cultura.
Na segunda fase, a equipe osasquense comporá o Grupo 5, ao lado do Sertãozinho, XV de Piracicaba e Atlético Sorocaba. Pelo regulamento, os dezesseis clubes foram distribuídos em quatro grupos de quatro, com jogos de ida e volta. Os dois melhores classificados passam à fase seguinte. Os outros grupos: 6: Botafogo, Ituano, São Bernardo e Ferroviária; 7: Paulista, Pão de Açúcar, Rio Preto e Mogi Mirim; 8: Juventus, Linense, Itapirense e Votoraty.
A Federação Paulista de Futebol deve divulgar a tabela dos jogos amanhã, terça-feira, 29.
(O crédito da foto é de Luís Pires.)

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Um adeus


Ontem uma grande figura – embora nos últimos tempos tivéssemos um pouco afastados, com certeza o sentimento de amizade nunca nos abandonou – deixou nossa convivência terrena. Jeanete Beauchamp, a Jane, partiu fora do combinado.
Conheci a Jane em meados da década de 1980, por meio de minha companheira. Na época, ela era dirigente sindical. Uma valente nas trincheiras da luta pela melhoria da qualidade do ensino em nosso País; uma mulher que sonhava mudar o mundo.
Nestas horas, na impossibilidade de construirmos o futuro, nos resta recordar o passado – “Nesse desassossego que o descanso/ Nos traz às vidas quando só pensamos/ Naquilo que já fomos,/E há só noite lá fora.” Lembro-me das festas que fazíamos em casa, das campanhas políticas – dela e de outras pessoas que nós apoiávamos. Tudo transforma-se num filme que precisamos rever. Recordar para nunca esquecermos os amigos.
Apesar do sobrenome francês, Jane tinha origem libanesa (seus avós, ou bisavós, não me recordo agora, migraram primeiro para o Canadá). E adorava comida árabe. Às vezes saíamos na hora do almoço para saborear uma berinjela recheada – ou pimentão. Uma iguaria preparada num pequeno restaurante comandados também por libaneses escondido numa das galerias entre a 24 de Maio e a Barão de Itapetininga.
Agora nossa amiga volta para a sua terra, Assis, no interior do Estado, para seu descanso eterno.
Jane adorava Fernando Pessoa, o poeta português. Dizia-nos que todas as manhãs, ao acordar, lia um poema dele. Era sua oração. Abaixo reproduzo um poema de Ricardo Reis, um dos heterônimos de Fernando Pessoa, para homenageá-la.




Cada coisa a seu tempo tem seu tempo.
Não florescem no inverno os arvoredos,
Nem pela primavera
Têm branco frio os campos.

À noite, que entra, não pertence, Lídia,
O mesmo ardor que o dia nos pedia.
Com mais sossego amemos
A nossa incerta vida.

À lareira, cansados não da obra
Mas porque a hora é a hora dos cansaços,
Não puxemos a voz
Acima de um segredo,

E causais, interrompidas, sejam
Nossas palavras de reminiscência
(Não para mais nos serve
A negra ida do sol).

Pouco a pouco o passado recordemos
E as histórias contadas no passado
Agora duas vezes
Histórias, que nos falem

Das flores que na nossa infância ida
Com outra consciência nós colhíamos
E sob uma outra espécie
De olhar lançado ao mundo.

E assim, Lídia, à lareira, como estando,
Deuses lares, ali na eternidade,
Como quem compõem roupas
O outrora compúnhamos

Nesse desassossego que o descanso
Nos traz às vidas quando só pensamos
Naquilo que já fomos,
E há só noite lá fora.

(Ricardo Reis)

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Cresce número de analfabetos em SP

Os números da Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar (Pnad), divulgadas na semana passada pelo IBGE, revelam que o analfabetismo das crianças entre 10 e 14 anos cresceu no Estado de São Paulo. Os números do Pnad referem-se a 2008. O levantamento apontou salto de 29 mil, em 2007, para 51 mil, em 2008, o número de crianças que não sabem ler e escrever nesta faixa etária. O problema é sério e tem várias raízes, inclusive sócio-econômicas e psicopedagógicas.
A estrutura educacional do Brasil, como a conhecemos hoje, é muito recente. Data da década de 1930, quando intelectuais e educadores, como Anísio Teixeira, tentaram organizar o universalizar o ensino. A escola era para muito poucos. Quase 80% da população era analfabeta.
A universalização do ensino, por incrível que pareça, começou a ser levada em prática pelos governos militares. O interesse era econômico, pois as fábricas precisavam de mão-de-obra especializada, e sem saber ler e escrever o operário não conseguia se especializar.
O grande problema é que faltavam professores. A solução encontrada pelo MEC foi a abertura de inúmeras faculdades de licenciatura em várias partes do país. Óbvio, com qualidade contestável.
O grande problema é que o Brasil nunca pensou a Educação com seriedade. Só agora, no final do segundo mandato de Lula, se prepara um novo Plano Nacional de Educação; em São Paulo, os governos tucanos sempre ignoraram a necessidade de um Plano Estadual de Educação, preferindo tirar da manga planos mirabolantes e definitivos, logo abandonados pelo novo ocupante do Palácio dos Bandeirantes, numa roda de infortúnios. A última foi a colocação de dois “professores” em sala de aula nos primeiros anos da escolaridade. A aspas em professores é proposital. O professor tem a “ajuda” de um estagiário. O resultado é este apontado pelo Pnad.

Tucanos põem culpa na Pnad

Costumo dizer que o governo de José Serra é platônico. Explico. A grosso modo, para Platão o mundo concreto percebido pelos sentidos é uma pálida reprodução do mundo das Idéias. Cada objeto concreto que existe participa, junto com todos os outros objeto de sua categoria de uma Idéia perfeita. Por exemplo, ao construir uma cadeira, o marceneiro faz uma reprodução da Idéia de cadeira, que é perfeita.
Assim é no governo Serra. O mundo perfeito do governador acontece na televisão, nas propagandas do governo. Lá as escolas são perfeitas, o sistema de transporte em São Paulo é ideal, tudo funciona. No mundo real, o metrô entra constantemente em pane, as escolas são péssimas, com professores mal-pagos e desmotivados. (Aliás, quem dependeu de metrô hoje, quarta, no início da manhã sabe o que estou dizendo.)
O secretário da Educação, Paulo Renato Souza, limitou-se a contestar os números do Pnad: “Nossos indicadores não mostram isso, só pode ser erro amostral”. É assim, no mundo perfeito ninguém erra. A arrogância é a mãe do desastre.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Vento da Lua


Acabo de ler o adorável romance Vento da Lua (Companhia das Letras, 288 páginas), do escritor espanhol Antônio Muñoz Molina. É um romance de formação que contrapõe o lento cotidiano de uma pequena e imaginária aldeia andaluza durante a ditadura franquista – Mágina, uma espécie particular de Macondo* – à velocidade vertiginosa da expedição Apolo 11.
Nesse vilarejo rural e arcaico, um narrador de 13 anos acompanha, empolgado e esperançoso, a missão da Apollo 11 em direção à Lua. O escritor contrapõe a viagem da equipe de Neil Armstrong às descobertas e iniciações do garoto – sexuais, intelectuais (é aficionado por Júlio Verne e H.G. Wells), morais, religiosas – e à rotina da cidadezinha.
Entremeados com as notícias da fantástica viagem, a dura rotina no campo (seus pais e avós são hortelões), a penosa falta de água encanada, a mesquinhez dos vizinhos e o obscurantismo dos padres professores são nítidas reminiscências da infância do autor - também nascido e crescido numa pequena cidade do sul da Espanha.
A obra de Molina nos permite uma outra leitura, as contradições da pós-modernidade, com a alta tecnologia convivendo com o atraso provinciano. Um belo livro. Recomendo a leitura.
Molina, que atualmente reside em Nova York, Estados Unidos, é um dos mais premiados escritores espanhóis. De sua vasta obra, a Companhia das Letras já lançou no Brasil Carlota Fainberg, Lua Cheia e Serafad.

*Macondo é a cidade imaginária criada por Gabriel García Marquez.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Happy Hour


Sexta-feira é dia de diversão. Uma dica de bar para a happy hour.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

De novo, as cotas

Recentemente, o geógrafo e professor da USP Demétrio Magnoli lançou o livro Uma gota de sangue – História do pensamento racial. Não li o dito cujo, por isso recorri a uma matéria do caderno Aliás, do jornal “O Estrado de São Paulo”. De acordo com a matéria, o compêndio de Magnoli é “um libelo contra o que o autor chama de mito das raças”. O próprio autor se explica: “Raças não existem. O que existe é o mito da raça, uma invenção recente, nascida há 150 anos junto com a expansão das potências européias na África e na Ásia e usada para conquistar poder político e econômico”. O jornalista Ali Kamel – todo poderoso da Rede Globo – percorre o mesmo caminho: em 2006 lançou o livro Não somos racistas, que recebeu elogios rasgados da revista “Veja”, a mais preconceituosa de nossas revistas semanais.
Os dois livros são sim libelos contra a política de cotas para negros e índios nas universidades brasileiras. Cansei de ouvir mesmices daqueles que se colocam contra as cotas baseados apenas no que viram e ouviram, na época, nas “reportagens” e opiniões de comentaristas da Globo.
A “Folha de S. Paulo” de hoje, 17, traz um artigo do professor José Jorge de Carvalho, da UnB (Universidade de Brasília). Reproduzo alguns trechos do artigo, que vão de encontro ao meu pensamento:

“Enquanto cresce o número de universidades que aprovam autonomamente as cotas, a reação a esse movimento de dimensão nacional pela inclusão de negros e indígenas vai se tornando cada vez mais ideológica (…).
“Um grupo de acadêmicos e jornalistas brancos, concentrados no eixo Rio-São Paulo, reage contra esse movimento apontado para cenários catastróficos, como se, por causa das cotas, as universidades brasileiras pudessem ser palco de genocídios como o do nazismo e o de Ruanda!
“Como não podem negar a necessidade de alguma politica de inclusão racial, passam a repetir tediosamente aquilo que todos sabem e do que ninguém discorda: não existem raças no sentido biológico do termo. (…) Começaram a negar a própria existência de racismo no Brasil.
Fugindo do debate substantivo, os anticotas optam pela desinformação e pela negacionismo: raça não existe, logo, não há negros no Brasil; se existem por causa das cotas, não há como identificá-los, logo, não pode haver cota”.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Os dois leões


O humor é o melhor dos remédios. Dia destes numa conversa lembramos do Stanislaw Ponte Preta, heterônimo do jornalista e humorista Sérgio Porto, que fez grande sucesso nas décadas de 1950 e 1960. Foi o criador da Tia Zulmira, Rosamundo e Primo Altamiro. Seu maior sucesso foi a obra FEBEAPÁ – Festival de Besteiras que Assolam o País, lançado em plena ditadura militar. O carioca Sérgio Porto faleceu aos 45 anos, em 1968.
Tenha uma ideia do que era o FEBEAPÁ: "No mesmo dia em que o governo resolvia intervir em todos os sindicatos, resolvia mandar uma delegação à 16a. Sessão do Conselho de Administração da OIT, em Genebra. Ao Brasil caberia exatamente fazer parte da Comissão de Liberdade Sindical. Na mesma ocasião, um time da Alemanha Oriental vinha disputar alguns jogos aqui e então o Itamarati distribuiu uma nota avisando que eles só jogariam se a partida não tivesse cunho político. Em Mariana, MG, um delegado de polícia proibia casais de se sentarem juntos na única praça namorável da cidade, baixando portaria dizendo que moça só podia ir ao cinema com atestado dos pais. Em Belo Horizonte, um outro delegado distribuía espiões pelas arquibancadas dos estádios.Dali em diante quem dissesse mais de três palavrões ia preso."
Em homenagem a este grande humorista, reproduzo abaixo a “fábula” dos leões. O texto é atualíssimo. Basta você trocar as siglas do PTB pela do PMDB e deputado por senador.

Fábula dos Dois Leões
Stanislaw Ponte Preta
(Sérgio Porto)

Diz que eram dois leões que fugiram do Jardim Zoológico. Na hora da fuga cada um tomou um rumo, para despistar os perseguidores. Um dos leões foi para as matas da Tijuca e outro foi para o centro da cidade. Procuraram os leões de todo jeito mas ninguém encontrou. Tinham sumido, que nem o leite.

Vai daí, depois de uma semana, para surpresa geral, o leão que voltou foi justamente o que fugira para as matas da Tijuca. Voltou magro, faminto e alquebrado. Foi preciso pedir a um deputado do PTB que arranjasse vaga para ele no Jardim Zoológico outra vez, porque ninguém via vantagem em reintegrar um leão tão carcomido assim. E, como deputado do PTB arranja sempre colocação para quem não interessa colocar, o leão foi reconduzido à sua jaula.

Passaram-se oito meses e ninguém mais se lembrava do leão que fugira para o centro da cidade quando, lá um dia, o bruto foi recapturado. Voltou para o Jardim Zoológico gordo, sadio, vendendo saúde. Apresentava aquele ar próspero do Augusto Frederico Schmidt que, para certas coisas, também é leão.

Mal ficaram juntos de novo, o leão que fugira para as florestas da Tijuca disse pro coleguinha: — Puxa, rapaz, como é que você conseguiu ficar na cidade esse tempo todo e ainda voltar com essa saúde? Eu, que fugi para as matas da Tijuca, tive que pedir arreglo, porque quase não encontrava o que comer, como é então que você... vá, diz como foi.

O outro leão então explicou: — Eu meti os peitos e fui me esconder numa repartição pública. Cada dia eu comia um funcionário e ninguém dava por falta dele.

— E por que voltou pra cá? Tinham acabado os funcionários?

— Nada disso. O que não acaba no Brasil é funcionário público. É que eu cometi um erro gravíssimo. Comi o diretor, idem um chefe de seção, funcionários diversos, ninguém dava por falta. No dia em que eu comi o cara que servia o cafezinho... me apanharam.

Cultura paulista


Acontece até o próximo domingo, 20, no Parque da Água Branca, a 13ª edição do Revelando São Paulo – Festival da Cultura Paulista Tradicional. Participam do festival 600 artesãos e culinaristas, além de mais de 300 grupos de manifestações artísticas e culturais do interior paulista.
Lá você encontra várias comidas típicas, como o arroz carreteiro, cuzcuz paulista, virado de feijão, além de doces caseiros.
Vale a pena conferir!

Serviço

Revelando São Paulo – Festival da Cultura Paulista Tradicional
Parque da Água Branca, avenida Francisco Matarazzo, 455, Água Branca
Todos os dias, até domingo, 20, das 9 às 22 horas.
Uma dica: o Parque da Água Branca fica próximo ao Terminal da Barra Funda (dá para ir de trem ou de metrô)

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Cara de Pavio


Meu amigo Paulo Netho promoverá o lançamento de três livros de sua autoria, que fazem parte da coleção Cara de Pavio: Confissões de um louco, Confissões de um mentiroso e Confissões de um otário. Em tempo, as ilustrações são de Girotto.
O evento acontecerá no próximo dia 26 de setembro, a partir das 18h30, na Livraria Saraiva do Shopping Ibirapuera (avenida Ibirapuera, 3103, Moema).
Paulo é um grande poeta e tem vários livros de literatura infantil e infanto-juvenil publicados; um trabalho consistente. Vale a pena conferir!

Chuchu, de volta?


Deu na “Folha”de segunda-feira. O governador José Serra (PSDB) enquadrou o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. Serra intimou Kassab a ficar à frente da prefeitura de São Paulo e não tentar voo até o Palácio dos Bandeirantes, sob pena de criar problemas na aliança PSDB-DEM.
Líder em algumas pesquisas de opinião para a corrida eleitoral de 2010, o ex-governador Geraldo Alckmin – o picolé de chuchu – é o preferido de Serra para disputar a sucessão do governo paulista. O que pesa na escolha do atual governador não são as pesquisas, mas a avaliação que estava se desenhando um cenário de guerra entre os tucanos e os “demos”, o que poderia prejudicar sua aspiração ao Palácio do Planalto – guerra semelhante daquela que se deu na disputa pela prefeitura, quando Serra preferiu o nome do candidato do Demo.
De acordo com a reportagem, Kassab desejava ser candidato a governador, pois a capacidade de investimento da prefeitura é muito pequena se comparada à do Estado de São Paulo. “Ele avalia que terá dificuldade para cumprir promessas e que deverá realizar uma administração mediana, o que impediria voos mais altos na política após deixar a prefeitura.”
Kassab aventava a possibilidade de apoiar outro tucano para a disputa do governo estadual: o chefe da Casa Civil, Aloysio Nunes Ferreira.
Chuchu com Quércia
Orestes Quércia (PMDB) está costurando apoio ao PSDB em São Paulo. A aliança PMDB-PSDB pressupõe apoio do ex-governador ao nome dos tucanos à sucessão de Serra e a garantia de uma legenda para disputar o Senado. Aloysio Nunes também é o preferido de Quércia, mas o peemedebista declarou à coluna de Mônica Bérgamo que apóia quem “os tucanos escolherem. E quem o Serra apoiar”.
O desenho da disputa eleitoral do ano que vem não é nada animador para o Estado de São Paulo.

O canto da sereia

Ulisses, o Odisseu, que deixou Ítaca para lutar em Tróia, precisou amarrar-se ao mastro de seu navio e a colocar cera nos ouvidos de seus marinheiros – conforme ensinamentos de Circe – para não sucumbir ao belo canto das sereias e ver seus navios arrebentarem-se nas pedras. O mito grego deu origem à frase “o canto da sereia faz tormenta”.
A senadora Marina Silva, (Maria Osmarina Marina Silva Vaz de Lima), ex-ministra do Meio-Ambiente, deixou recentemente o PT para filiar-se ao PV. Nada contra a mudança de partido. Mesmo porque a senadora nunca encontrou muito apoio da cúpula do PT e nem muito espaço no governo para desenvolver seu trabalho em defesa do meio-ambiente. Não deixou a legenda com mágoas. Quando anunciou sua desfiliação, no dia 19 de agosto, disse que a decisão “exigiu de mim coragem para sair daquela que foi até agora a minha casa política e pela qual tenho tanto respeito, mas estou certa de que o faço numa inflexão necessária à coerência com o que acredito ser necessário alcançar como novo patamar de conquistas para os brasileiros e para a humanidade."
O grande problema da senadora Marina Silva é que parece que ela está caindo no canto da sereia. Mal anunciara sua saída do PT, ganhou entrevistas em quase todos os jornais de grande circulação e as páginas amarelas da revista “Veja”. Transformou-se, da noite para o dia, numa alternativa à possível candidatura de Dilma Rousseff. Tudo o que a direita quer, dividir os votos. A mosca azul parece que picou o PV. Marina estrelou a propaganda obrigatória a que o partido tem direito. Infelizmente, como vejo TV muito pouco, peguei uma das inserções já no final. Não pude, contudo, acompanhar o discurso dela.
O mesmo aconteceu em 2006, com Heloísa Helena – outra que tem nome grande: Holoísa Helena Lima de Moraes Carvalho. Ela também caíu no canto da sereia e acreditou que poderia derrotar Lula e Alckmin. Obteve 6,8% dos votos válidos. Lula foi reeleito no segundo turno.
O PV ainda é um partido pequeno no Brasil. Nas últimas eleições para presidente, seu candidato teve sua legenda cassada pelo TSE; no segundo turno apoiou Lula e acabou abocanhando o Ministério da Cultura, na figura de Gilberto Gil.
Em São Paulo, por exemplo, na eleição para governador, obteve 0,8% dos votos.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Avanti, Barrichello


Confesso que nunca fui muito fã de Fórmula 1. Quando moleque, o Émerson Fittipaldi era o bamba do pedaço. Mas não tinha idade suficiente para entender de corridas, apenas o admirava, sem saber muito o porquê. Anos depois Nelson Piquet fez sucesso. Para Piquet confesso que torci.
Nos anos 80 apareceu um gênio das pistas: Airton Senna. Sei que alguns amigos ficarão arrepiados, mas nunca fui muito com a fuça dele, embora o considerasse um excepcional piloto. Não perdia as manhãs de domingo para ver a Fórmula 1.
Minha antipatia pelo Senna tinha duas raízes: ele próprio, que posava de bom-mocinho, procurava se mostrar patriota; mas o que me dava mais nojo era o ufanismo gavião-buenista, um puxa-saco mor do rapaz. Nunca entendi a Fórmula 1 como uma competição entre nações. É um esporte (há quem conteste que corridas de carro possam ser classificadas como esporte) individual. O campeão não é o País, mas o indivíduo. Na Europa, principalmente na Itália, as pessoas torcem para a escuderia. Não importa qual a nacionalidade do piloto, especialmente os “ferraristas”. Digo isso porque muitas vezes fui mal interpretado ao dizer que não engolia o Senna. Tinha que torcer para ele só porque era brasileiro.
Fiz esta introdução para revelar que na manhã de domingo liguei a TV para ver parte do Grande Prêmio de Monza. É lógico que abaixei o volume da televisão e fiquei ouvindo música enquanto os carrinhos davam volta no circuíto italiano. Torci para o Rubinho Barrichello e fiquei feliz pela sua vitória.
O brasileiro trata muito mal este piloto. O grande azar dele chama-se Rede Globo. Com a morte de Senna, a Globo ficou viúva e tentou fazer de Barrichello um novo Senna. Foi difícil para ele, que corria há um ano apenas, suportar a pressão.
Rubinho Barrichello tem dois vice-campeonatos mundiais. Mas aqui isto não tem o menor valor. Fosse em qualquer outro país, seria reverenciado. Gosto mais do Rubinho pela sua humildade, pelo seu bom humor. Rubinho tem tudo para calar seus detratores. Se dirigir com a mesma inteligência as próximas corridas como o fez em Monza, certamente conquistará um título mundial de automobilismo.

Grosseria


Cleiton Xavier - foto AE

A batalha entre Palmeiras e Vitória, nas cercanias do Barradão, foi marcada por grosseria. Se não, vamos aos fatos: no primeiro gol rubro-negro houve grossura do Marcos e grosseria do Ueliton (assim mesmo!), que se atreveu a pôr o nariz na bola. Depois a grossura tomou conta da zaga palmeirense. 3 a 2 ficou de bom tamanho. O jogo mostrou o quanto o maestro Diego Souza faz falta. Ao contrário do time do Morumbi, o Palmeiras não tem banco; o São Paulo, todos sabem, tem o Bradesco – mais aí é uma outra história... Mas do que competência, o tricolor tem uma sorte do tamanho do Morumbi. No sábado, bateu, por 2 a 0, o Avaí (sensação dos meios do comunicação que estacionou no 10º lugar, região da qual não deve sair).
Sorte que o Internacional também vacilou. Perdeu – também por 3 a 2 – para o Cruzeiro. Assim o Palestra, pelo menos até o próximo final de semana, continua líder do Brasileirão.
Uma nota triste: o empate sem gols entre o Botafogo e o Fluminense – 18º colocado e lanterna do campeonato, respectivamente. Não vi o jogo, mas quem assistiu disse que foi medonho! É o futebol do Rio colhendo os frutos que a cartolagem plantou há muitos e muitos anos.
Outros resultados da 24ª rodada: Santos 1, Santo André 0; Atlético-MG 2, Atlético-PR 1; Barueri 3, Goiás 1; Náutico 0, Grêmio 2. Coritiba e Corinthians encerram a rodada na quarta-feira, 16.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

11/09

Há oito anos, o mundo assistia, basicamente ao vivo, aos atentados às torres gêmeas do Word Trade Center e ao Pentágono. Na época, editava o jornal “Terça-feira”, em Osasco. Um tablóide experimental que não durou mais que um ano. Na época, publiquei o poema que reproduzo abaixo no espaço dedicado aos meus artigos semanais:

Os jornais de ontem trouxeram
nas manchetes o cheiro de pólvora,
de sangue, de poeira que penetrou
nas narinas pós-modernas de Nova York
e dos intelectuais do Post,
que pensam o supremo saber
deitados em berço esplêndido
ao lado do Pentágono – polígono do poder.

Não sobrou uma linha
sequer para falar do massacre
promovido por indonésios contra os
timorenses – os algozes usaram armas made in USA.
Nem da fome que o Timor Leste tenta não passar.

O cheiro de pólvora-sangue perturbou
narizes europeus sensíveis;
mas os mesmos brancos colonizadores
não se sensibilizam com o fedor
de corpos em decomposição que a fome e as guerras
– que usam armas made in USA
provocam na África.

A poeira do Word Trade Center
feriu olhos ingleses, que choraram
com a Rainha-Mãe
os corpos carbonizados.
Olhos que não enxergam
palestinos matando judeus,
judeus matando palestinos.
Olhos que cegam para o embargo
econômico imposto ao Iraque
(almas civis passam fome).
Olhos que não veem – ou fingem – o desespero
dos cubanos que querem viver
em paz com Fidel, ou sem ele, mas querem viver.

Ontem chorei por almas
ceifadas por kamikazes
muçulmanos; chorei pela
intolerância racista de George W. Bush
e pela América ávida pelo
sangue dos meninos
que trabalham de graça
em suas fábricas poluidoras
plantadas no quarto mundo.
Chorei por mim mesmo!

Luís Brandino, 12 de setembro de 2001

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Padre alucinado


Recém-ordenado, o novo padre iria rezar sua primeira missa. Estava nervosíssimo, suava em bicas. Mal conseguiu terminar o sermão. Depois da missa procurou o Arcebispo, que lhe sugeriu:
– Meu filho, domingo que vem, antes da missa, coloque umas gotas de vodca num copo da água e beba. Você se sentirá mais relaxado.
E assim o padre fez. No domingo seguinte sentiu-se tão bem que poderia fazer o sermão em meio a uma tempestade, tão feliz que ficara. No fim da missa, ao retornar à reitoria da Paróquia, encontrou uma carta do arcebispo:
“Prezado padre, seguem algumas observações sobre a missa que o senhor rezou hoje:
1)Na próxima vez, coloque gotas de vodca na água, e não gotas de água na vodca;
2)Não coloque limão e açúcar na borda do cálice;
3)O manto da imagem do Nosso Senhor Jesus Cristo não deve ser usado como guardanapo;
4)Existem dez mandamentos e não doze;
5)Existem doze Apóstolos e não dez;
6)Judas traiu Jesus, não o “sacaneou”;
7)Jesus foi crucificado, não enforcado;
8)Tiradentes não tem nada a ver com a história;
9)A hóstia não é chicletes, portanto evite fazer “bola”;
10)Aquela “casinha”é o confessionário, não o banheiro;
11)Evite apoiar-se na imagem de Nossa Senhora, muito menos abraçá-la;
12)A iniciativa de chamar o público para cantar foi louvável, mas fazer trenzinho e correr pela igreja foi demais;
13)Água benta é para benzer, não para refrescar a nuca;
14)Nunca reze a missa sentado na escada do altar – muito menos com o pé sobre a Bíblia Sagrada;
15)As hóstias devem ser distribuídas aos fiéis; jamais usadas como aperitivo para acompanhar o vinho;
16)Procure usar roupas por debaixo da batina;
17)Evite abanar-se com a batina quando estiver calor;
18)Jesus nasceu em Belém, mas isto não significa que seja paraense;
19)Numa missa não se deve fazer pergunta ao público;
20)Também não se deve pedir ajuda aos universitários, até porque eles não sabem nada;
21)Quem peca é pecador, não filho da puta;
22)Quem peca vai para o inferno, não para a puta que o pariu.
Pelos 45 minutos de missa que acompanhei, notei estas falhas. Espero que não se repitam.
Atenciosamente,
O Arcebispo

PS: Uma missa leva em torno de 1 hora, não dois tempos de 45 minutos cada um. Aquele sujeito sentado no canto do altar, a quem o sr. referiu-se como “travecão de vestido”, era eu...

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Fim da “Lei da Mordaça”


Quatro anos depois de os generais deixarem o comando do Palácio do Planalto e vestirem pijama, o Brasil ganhou uma nova Constituição. Era preciso restabelecer o estado de direito democrático e pôr fim ao que se chamou de “entulho autoritário” – leis que nasceram para dar sustentação jurídica aos abusos do Estado.
No entanto, muita sujeira ainda persistiu. Uma delas o inciso I do artigo 242 da Lei 10261, de 1968 (Estatuto do Servidor Público do Estado de São Paulo), que impede servidores estaduais de dar entrevistas ou criticar autoridades ou seus atos. Mesmo com a democratização do país a partir da eleição de Tancredo Neves, em 1984, pelo Colégio Eleitoral, este dispositivo foi amplamente usado pelos governadores para punir servidores, especialmente professores.
Na noite de terça-feira, 8, os deputados paulistas deram uma lição de cidadania, devolvendo aos funcionário públicos o sagrado direito à liberdade de expressão. É que eles aprovaram o Projeto de Lei Complementar 1/2009, de autoria do governo.

Serra despreza Legislativo
A iniciativa pelo fim da “Lei da Mordaça”, contudo, não foi do Executivo paulista. Em 2007, o deputado Roberto Felício (PT) apresentara projeto de lei complementar semelhante ao do governo; na época, tramitava na Casa projeto de mesmo teor de autoria de Carlos Gianazzi (PSOL). Depois de um acordo entre os dois deputados, os parlamentares aprovaram a matéria no ano passado. Serra vetou o projeto, mandando à Assembleia, logo em seguida, texto semelhante para aprovação do Legislativo. Esta iniciativa de Serra demonstra seu caráter autoritário e de desprezo pelo Poder Legislativo do Estado.

Por Luís Brandino

Sampa mergulha no caos


São Paulo viveu mais um dia de caos ontem, 8. Segundo o Instituto Nacional de Metereologia (Inmet) foi a maior volume de chuva desde 1943. A estação convencional do mirante de Santana (zona norte) registrou, às 17 horas, 70mm de água. A média de precipitação registrada pelo Inmet para o mês de setembro inteiro é de 74 mm.
Bastou para que a maior cidade do País mergulhasse nas trevas. Só para se ter uma ideia, a marginal Tietê, que tem 24,5 km de extensão, apresentou 20 km de lentidão no sentido Castelo Branco. Em vários pontos da cidade e na Grande São Paulo registrou-se deslizamento ou desmoronamentos de casas. Em Osasco, no Morro do Socó, um deslizamento de um barranco matou duas crianças; outras três estão desaparecidas.
A maior metrópole da América Latina esgotou. Não tem mais concerto. Fruto da despolítica e do desplanejamento dos políticos que ocuparam tanto a Prefeitura quanto o governo do Estado, que deixaram a cidade crescer de forma desordenada, e, ao mesmo tempo, só fizeram construir pontes e avenidas, sem qualquer planejamento urbano. Estamos pagando pelo descaso.

Lixo piora situação

Em algumas regiões da Capital as enchentes foram agravadas pela quantidade de lixo nas calçadas, que entupiram galerias e bocas-de-lobo. É que o filhote do Serra cortou verbas da coleta de lixo. É um gênio da administração pública.

Por Luís Brandino

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Nestlé patrocina vôlei de Osasco


Deu no blog do Juca Kfouri de segunda-feira, 7.: “A Nestlé deve ser a patrocinadora do time de vôlei feminino de Osasco,que tinha o respaldo da Finasa, leia-se Bradesco.”
Ainda segundo o jornalista, o presidente da Nestlé do Brasil, Ivan Zurita, teria viajado a Suíça para acertar os detalhes. A novidade deve ser anunciada oficialmente entre os dias 14 ou 16 deste mês.

Ferreira Gullar


Um instante

Aqui me tenho
Como não me conheço
nem me quis
sem começo
nem fim
aqui me tenho
sem mim
nada lembro
nem sei

à luz presente
sou apenas um bicho
transparente

O poeta Ferreira Gullar (nascido José Ribamar Ferreira) completa nesta quinta-feira, 10, 79 anos de vida. Autor, entre outros, de Poema Sujo, Gullar tem uma longa carreira na imprensa – foi radialista, cronista e crítico de arte; escreveu ainda para teatro e televisão. Gullar nasceu em São Luiz, capital do Maranhão, e é um dos principais poetas do modernismo. Que viva Gullar!

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Collor, agora imortal


Até o final da década de 1980, meados da década de 1990, considerava-se uma celebridade um grande ator – de novela, cinema ou teatro –, um cantor de MPB, um escritor. Jogador de futebol era jogador de futebol (menos o Pelé, é claro, o brasileiro mais conhecido no mundo). Depois as magérrimas modelos de passarela tornaram-se famosas; um tempo depois, participantes de reality shows passaram a ganhar as primeiras páginas de jornal.
No fim do século XIX, intelectuais brasileiros começaram a alimentar a ideia de uma academia nacional, como a Academia Francesa. No dia 15 de dezembro de 1896 aconteceu a primeira reunião preparatória, na sala de redação de redação da Revista Brasileira, na travessa o Ouvidor, nº 31. Machado de Assis foi aclamado presidente. Em 28 de janeiro do ano seguinte, na sétima e última sessão preparatória instalou-se a Academia,com trinta membros: Araripe Júnior, Artur Azevedo, Graça Aranha, Guimarães Passos, Inglês de Sousa, Joaquim Nabuco, José Veríssimo, Lúcio de Mendonça, Machado de Assis, Medeiros e Albuquerque, Olavo Bilac, Pedro Rabelo, Rodrigo Otávio, Silva Ramos, Teixeira de Melo, Visconde de Taunay, Coelho Neto, Filinto de Almeida, José do Patrocínio, Luís Murat e Valentim Magalhães, Afonso Celso Júnior, Alberto de Oliveira, Alcindo Guanabara, Carlos de Laet, Garcia Redondo, conselheiro Pereira da Silva, Rui Barbosa, Sílvio Romero e Urbano Duarte.
A partir daí começaram a nascer inúmeras academias nos Estados. A de São Paulo, por exemplo, data de 1909. No mesmo ano surgiu a Academia Alagoana de Letras, fundada por intelectuais de Maceió no dia 1º de novembro.
A menos de dois meses de completar 100 anos, a Academia Alagoana de Letras elegeu o ex-presidente e atual senador Fernando Collor de Mello seu mais novo membro. Detalhe: Collor não tem nenhum livro publicado.
Para não sermos injustos com os alagoanos, devemos lembrar que a Academia Brasileira de Letras teve entre seus membros o general Aurélio de Lira Tavares, ministro do Exército do governo Costa e Silva, eleito em 1970. Sarney também é acadêmico. Autor de Marimbondo de Fogo, derrotou na disputa o poeta Mário Quintana. O bigodudo que hoje preside o Senado não foi o único presidente a ocupar um cargo na Academia. Getúlio Vargas – outro que nunca publicou nada – também foi acadêmico.

Filhos X Violência

O jornalista Gilberto Dimenstein publicou, na quinta-feira, 3, a seguinte pérola em sua coluna na “Folha On-line”, com o seguinte título: Menos filhos, menos violência. Reproduzo a nota na íntegra:

“A informação mais importante da pesquisa do IBGE que acaba de ser divulgada é a redução brusca do número de filhos das mulheres com baixa escolaridade. Se na década de 1970, mulheres com menos de três anos de escolaridade tinham em média 7 filhos, agora passou 3 – e continua caindo. É uma boa notícia para quem está preocupado com a violência urbana.
“Há uma série de causas para a violência – e uma delas é a desestruturação familiar. Ou seja, a dificuldade ou até total incapacidade dos pais cuidarem de seus filhos, gerando um ciclo de marginalidade. A combinação de menos filhos por família com aumento da oferta de serviços públicos, especialmente educação (e desde a creche e pré-escola), é uma receita óbvia para termos sociedades mais integradas e, portanto, menos violentas. Até porque significam família com mais estudo e renda.
“Essa tendência ainda pode ser acelerada com programas de prevenção da gravidez em comunidades mais pobres como as favelas, onde, segundo estimativas, a média está acima dos três filhos por mulher.”

De onde diabos Dimenstein tirou tal conclusão? Até a década de 1920, cerca de 65% da nossa população era analfabeta. E as famílias, numerosas. Se seguirmos a linha de raciocínio proposta pelo nobre jornalista, deveríamos supor que a violência era cinco vezes maior naquela época que agora.
Cabe outra pergunta: os índices de violência sofreram queda no Brasil? Por que ele não mostrou tais números?

Professores e engenheiros


O desavisado que chegasse a uma banca de jornal na manhã desta sexta-feira, 4, e desse uma olhadela no “O Estado de S. Paulo” e depois na “Folha” ficaria confuso. Explico. O MEC (Ministério da Educação) divulgou o resultado do Enade (Exame Nacional de Desempenho do Estudante), que avalia as faculdades brasileiras. O “Estadão” fez do fato sua manchete principal – “Um em cada 4 professores se forma em faculdades ruins”. A “Folha” também fez chamada de capa, mas não usou o exame como manchete principal: “1 em cada 4 engenheiros estuda em cursos ruins”.
Os jornais têm o direito de escolher o enfoque que querem dar ao fato. Mas as duas manchetes são preconceituosas contra duas profissões. A do “Estadão” com um agravante, pois o curso em tela é o de Pedagogia, que não forma professores. Pelo menos no Estado de São Paulo, para lecionar o professor tem que fazer o curso de Magistério – em âmbito de segundo grau para os primeiros anos da escola e de Licenciatura Plena nos demais, ou seja, cursar uma faculdade de Letras, de Matemática, de Biologia etc. O ideal seria afirmar que 36% das faculdades do País foram reprovadas pelo MEC, como fez o “Diário de São Paulo”.
“Estadão” e “Folha” são uma espécie de braço jornalístico do tucanato paulista. O primeiro assumidamente (inclusive em editorial); o segundo, veladamente. A Educação Pública, nos últimos catorze anos – desde Mário Covas – sofreu uma política deliberada de desmonte. E tem sido a pedra no calcanhar de José Serra, provável candidato do PSDB ao Palácio do Planalto. Serra tem deliberadamente orquestrado uma campanha para culpabilizar os professores pelas mazelas da Educação. Daí a manchete. Com relação ao enfoque dado pela “Folha”... sei não, o Aécio Neves seria engenheiro? Não, o governador mineiro é formado em Economia.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Jaguar: 200 mil litros de chope


A “Revista do Brasil”, edição de setembro, traz uma deliciosa entrevista com o cartunista Sérgio de Magalhães Gomes Jaguaribe, o Jaguar. Ao lado de Ziraldo, Paulo Francis, Tarso de Castro, Millôr Fernandes, Luiz Carlos Maciel, Sérgio Cabral, Jaguar foi um dos bambas do jornal O Pasquim – o tablóide que marcou época nos anos 1960, 1970.
Na entrevista, Jaguar revela que, em seus 77 anos de vida, já teria sorvido 200 mil litros de chope, em cinquenta anos de boemia. Ele mesmo fez as contas: “dez chopes por dia, em média; 3.650 por ano, mais de 200 mil litros de experiência”.
Para ler a revista (a de setembro, infelizmente ainda não está disponível) acesse: www.redebrasilatual.com.br

Mais saúde para os ricos


A Assembleia Legislativa aprovou na madrugada desta quinta-feira, 3, por 55 votos a 17, a terceirização de unidades públicas de saúde para entidades privadas – as chamadas Organizações Sociais (OSs). O projeto, de autoria do governador José Serra (PSDB), prevê que 25% dos atendimentos sejam dedicados aos planos de saúde. “Isso cria um verdadeiro apartheid dentro do sistema”, declarou à Agência Estado o diretor do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde, Mário Scheffer. O Ministério Público também alertam para a inconsequência da medida. “O Estado não está aparelhado para fiscalizar as OSs”, comentou a promotora Anna Trotta. Para os promotores, o atendimento de convênios em unidades públicas fere os princípios do SUS (Sistema Único de Saúde), que prevê a universalidade e a equidade da assistência. Os promotores alegam que o atendimento a convênios prejudicará pacientes mais pobres, que não têm plano e que já são sujeitos a filas, enquanto pessoas com cobertura privada desfrutarão, dentro da rede pública, de serviços mais rápidos e confortáveis.
Plano para o Brasil
Infelizmente nós não aprendemos ainda o que é política. Só discutimos o assunto em vésperas de eleições, e ainda assim equivocadamente, pois personalizamos os candidatos. A maioria não vota num plano de governo, numa ideia, numa ideologia; elege aquele que melhor lhe apetece sei lá porque cargas d'água.
José Serra é candidatíssimo à presidência da República em 2010. Antes, contudo, disputará com Aécio Neves a indicação do PSDB. Na verdade, não importa qual deles disputará o pleito, pois a política é a mesma: neoliberalismo levado às últimas consequências, ou seja o Estado mínimo. Os setores mais prejudicados com esta política do capitalismo tardio são os da Saúde e o da Educação públicas. Na Educação, Serra tem insistido na meritocracia (coisa criada por Margaret Thatcher); na Saúde, a terceirização. Esta será sua política se chegar ao Palácio do Planalto. O engraçado é que esta política não prevê o imposto mínimo, né?
Não quero ser professor de ninguém, muito menos o dono da verdade. Cada um sabe onde o calo aperta, mas é importante pesar estas questões antes de apertar o botão “confirma” na urna eletrônica e ajudar a eleger um presidente, um governador, um prefeito.
Tenho dito.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Privatização ou precarização?


Há onze anos, em sua sanha neoliberal, o presidente Fernando Henrique Cardoso promoveu a privatização do Sistema Telebrás – então responsável por 95% dos serviços públicos de telefonia do País. O discurso era de que a concorrência provocaria a melhora na qualidade dos serviços prestados. O bolo foi repartido entre doze empresas. A ideia era fomentar a concorrência. Na prática, contudo, o mercado ainda é controlado basicamente por três empresas: a espanhola Telefónica (que opera rede fixa e detém metade da Vivo e da Tim), a Oi/Brasil Telecom e a mexicana Telmex, dona da Embratel, da Claro e da Net.
Em apenas dez anos no Brasil, a Telefônica apurou lucro de R$ 18 bilhões. Neste mesmo período, por seis vezes liderou o ranking de reclamações no Procon. Ou seja, a insatisfação da clientela foi proporcional aos lucros dos espanhóis.
Os problemas se aprofundaram com o serviço de Internet, principalmente da banda larga – estima-se que existam 11 milhões de usuários do serviço no País. Recentemente, a Telefônica foi proibida pela Anatel de comercializar o Speedy, em função, principalmente, dos quatro “apagões” em menos de um ano, com interrupções que chegaram a 36 horas.
O Brasil errou ao privatizar o Sistema Telebrás. Poderia flexibilizar o sistema, permitindo que outras empresas entrassem no mercado para, ai sim, “fomentar a concorrência”.
Na idade da pedra
Na minha casa a Internet ainda é discada. Quando surgiu a banda larga – Speedy – o preço do moden e da mensalidade estava fora da minha humilde realidade. No ano passado, tentei assinar o Speedy e optei pelo Terra como provedor. Não deu certo. Primeiro que demoraram mais de um mês para enviar-me o moden; depois, descobri que o dito cujo não estava habilitado. Ai a briga começou com a Telefônica, que insistia em dizer que na minha região o sinal não chegava; bem, mas meu vizinho tem Speedy. Desisti. Parti para a Net, com o Virtua. Mais uma negativa: esta região não é atendida pela Net. Não consegui contra-argumentar, pois é uma secretária eletrônica que atende a ligação e não dá qualquer outra opção. Detalhe, o cabo da Net passa no poste em frente a minha casa e meu cunhado é assinante. A banda larga móvel não é para o meu bico. A iniciativa privada realmente é competente no Brasil!
Estamos ainda na idade da pedra. Numa reportagem da Revista do Brasil, descobri que em Portugal há dez empresas que oferecem o serviço de banda larga. Mais, a velocidade da Internet móvel é de 21,6 megabytes e custa o equivalente a R$ 80,00. (Nossa tecnologia lembra aquela da piada do celular com câmera -- foto.)